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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

CENAS DO COTIDIANO

Era noite e voltava da Semana Filosófica. Entrei no ônibus, sentei e pus os fones numa tentativa de evitar ouvir as conversas e o barulho em volta. De repente, sobe um menino franzino, cabelos crespos, mulato e de pouca idade. Passou célere entre os passageiros e postou-se ao lado da catraca. Não obstante estivesse com os fones, pude ouvir o que dizia e lembro que cumprimentou a todos e pôs-se a cantar. Voz rouca, desafinada e desprovida de potência, ecoava com dificuldade pelo corredor do ônibus sem se deixar calar. A música que tocava no mp3 não impedia de ouvir, vez ou outra, o menino que insistia naquela execução incômoda que parecia arranhar o ouvido.
Após a apresentação, seguiu entre os passageiros que depositavam moedas em suas mãos. Com a mesma rapidez com que entrou no ônibus, estendia a mão para que colocassem as moedas. Fui surpreendido pela atitude de um rapaz, que sentava logo à minha frente, e ofereceu uma caneta ao menino. A caneta foi recusada com veemência, embora o rapaz insistisse na doação. O garoto seguiu resolvido a recolher mais moedas, pois acreditava ser o único pagamento válido pela sua apresentação. Percebi que o rapaz ficou contrariado, mas não manifestou raiva. Guardou a caneta, pegou um livro e esqueceu a situação constrangedora. Acompanhei a cena e fui imediatamente acometido por um sentimento de reprovação pela atitude do garoto. A poeira baixou e a indignação foi dando lugar à reflexão sobre aquele acontecimento tão corriqueiro e ao mesmo tempo tão singular. Comecei a levantar hipóteses sobre a atitude do menino e não custei a encontrá-las. Assim, pus-me a pensar sobre o significado que o menino atribuíra ao gesto do rapaz e ao próprio fato de, dali por diante, ter uma caneta. Pensei que para ele de nada adianta ter uma caneta, uma vez que suas perspectivas do que fazer com ela são tão estreitas a ponto de não atribuir sentido algum ao fato de possuí-la. De posse do dinheiro, pode satisfazer de maneira imediata suas necessidades e daqueles que ficaram em casa. Mas uma caneta representa a promessa de um futuro longínquo, quando a fome que sente exige que seja saciada hoje e não após longos anos de escola. O que fazer com uma caneta se seus sonhos foram violentamente roubados e suas expectativas cortadas pela raiz, restando-lhe apenas aquela voz desafinada e aquelas mãos empoeiradas que se estendem abruptamente para receber o escasso objeto de sua sobrevivência? Ter uma caneta significa voltar a sonhar, pensar numa situação outra, construir mundos que foram tragicamente desfeitos e com o quais não se quer mais complicar a vida. Está decidido de que sonhos não ficaram para ele e de que canetas não farão diferença porque aprendeu a ser igual àqueles que compartilham com ele o mesmo chão e para os quais não enxerga outra realidade que não seja a de depender da caridade alheia.
Saí do ônibus e a cena me perseguia acompanhada de uma reflexão insistente sobre o menino que se fez cantor para garantir alguns trocados e o jovem que, na sua atitude de extrema solidariedade, se dispôs a oferecer um futuro melhor àquela criança que já não vislumbra perspectivas outras que não sejam aquelas que a vida, diariamente, lhe oferece: a estreita perspectiva aberta por um ônibus, uma canção e algumas moedas que mal garantirão o feijão com arroz de amanhã. Aquele jovem oferecera ao garoto a “chave” que permite a entrada num mundo onde tantas outras portas se abrem indefinidamente, contudo, a criança preferiu permanecer na estreiteza de uma sala com porta, mas sem a chave adequada para abri-la. Nada mudou na vida do menino, entretanto, é bom saber que há pelas ruas da cidade um jovem obstinado em oferecer “chaves” que abrem as portas que recusamos ver.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Sobre nosso tempo

O poeta parece ter dito o óbvio: “o tempo não pára”. O que soa óbvio para muitos não o é para aqueles que se detiveram em refletir sobre essas palavras que mais parecem abrir para o mistério, a opacidade, que para evidências que se deixam facilmente encontrar. O tempo do poeta não coincide necessariamente com o tempo cronológico, marcado pelas horas que se sucedem e correm céleres sem permitir que tiremos o olho do relógio para sentir o tempo que não é aquele ditado pelas horas, mas aquele que reúne presente, passado e futuro no instante mesmo das nossas vivências cotidianas. Para o poeta, esse tempo não pára de acontecer, embora não o percebamos e, por isso, estejamos sempre correndo atrás do tempo ou reclamando do tempo que passou. Assim, o tempo é esse instante-já – no dizer de Clarice Lispector – que aglutina passado e futuro no presente que não é marcado pelas horas, mas pela vivência profunda e pela experiência do tempo como mergulho no mar sem fundo nem limites da vida. É estar sempre no tempo fazendo a experiência de si, do outro e do cotidiano e, de modo algum, correndo atrás do tempo, deixando o tempo passar ou perdendo tempo. Assim sendo, não é preciso correr atrás do tempo porque ele está sempre aqui e é desde sempre presente, passado e futuro. Ilude-se também quem pensa que o tempo passa, porque ele não passa, ele fica na mesma medida da experiência que fazemos dele. Por último, não se perde tempo, vivencia-se o tempo, pois, qualquer experiência, negativa ou positiva, é imediatamente acrescentada ao nosso tesouro pessoal que se acumula à medida que estabelecemos uma relação significativa com aquilo que nos acontece.
Bem, essas palavras sobre o tempo introduziram a reflexão que povoava meus pensamentos enquanto tentava dormir. A bem da verdade, pensava sobre como as pessoas têm vivenciado seu tempo e das repercussões disso na nova ordem das relações interpessoais que parece se estabelecer de uns anos para cá. Na ocasião, lembrava de alguns momentos bastante significativos da minha adolescência quando contava com 14/15 anos. Não sei se estou certo - e titubeio em admitir que expresso uma certeza sobre valores, vivências, comportamentos, porque cada época tem suas certezas que norteiam vivências – mas tenho uma ligeira impressão de que há 10/15 anos atrás as pessoas vivenciavam melhor o seu tempo, digeriam melhor o momento e, por isso, eram capazes de construir relações mais significativas e laços mais duráveis. Penso que a pressa e a lógica da nova ordem social nos colocaram num permanente estado de alerta pelo tempo que passa, que se perde e atrás do qual devemos correr infatigavelmente. Não sei se desse modo temos ganhado tempo ou temos perdido no sentido de que não fazemos a experiência do tempo que se inaugura impreterivelmente nessas tomadas de consciência de quem sou eu, de quem é o outro e da busca de significado para os instantes vividos. Banalizamos o contato humano, superficializamos o encontro, demos às costas ao que há de belo e gratuito na relação com o outro, evitamos a vida e, por tudo isso, caímos num abismo vazio de sentidos e valores, embora contemos para nós mesmos que somos plenamente felizes porque é melhor alimentarmo-nos de uma ilusão que refazermos a vida e torná-la mais fecunda.
Enquanto digito essas palavras, passa-me pela memória momentos nunca esquecidos e que chegam aos milhares e desordenadamente como que uma enxurrada que não cessa de correr. São momentos que você não recorda ou conta como que por obrigação ou porque foram espetaculares, sensacionais e dignos de aparecerem no Fantástico, Faustão, Domingo Legal ou qualquer um desses programas sensacionalistas que manipulam os fatos a seu bel-prazer, mas porque dada a sua simplicidade e caráter vivencial, reflexivo, imprimiram um sentido à vida. Recordo, num tom saudosista, de cartas enviadas e escritas, de declarações feitas ao ouvido (publicamente ou por escrito), da mão no ombro, do olhar discreto com o canto do olho, do encontro marcado, das mãos dadas, do passeio sob a neblina, das risadas gratuitas, da palavra que sossegava o coração, dos passos dados (sem pressa), do cair da noite, da vida partilhada, dos sonhos que povoavam as conversas sempre tão delicadas, das cobranças (porque não ligou, não escreveu, não deu a atenção desejada), do flerte a um tempo cheio de desejo e carinho, dos livros e músicas em comum, do papo na janela, das brincadeiras infantis (mas nunca idiotas e vazias), daquilo que não fez, mas poderia ter feito e, por isso, se arrependeu e pediu desculpas sempre pronto para recomeçar. Se hoje perdemos tudo ou perdemos algumas dessas coisas é lamentável porque é o que dá fôlego novo à vida. Agora se, para alguns, isso parecer careta, antiquado ou qualquer coisa do tipo, peço que, por favor, não hesitem em dizer, pois prefiro uma exortação à indiferença com a qual somos obrigados a conviver nos dias atuais. Já não existe a cumplicidade e companheirismo de antes, as cartas não chegam mais, as mãos se soltaram, os passos são dados sozinhos, o passeio hoje recebeu outro nome e chama-se navegar, mas não pense você que é navegar por mares nunca dantes navegados como queria o poeta, mas por um mundo distante e sem vínculo real onde não se vê, não se toca, no se escuta os passos do outro que caminha ao seu lado, os risos calaram-se e transformaram-se em “carinhas” nas maioria das vezes descaradas que são mais fontes de mal-entendidos que produção inteligível de sentidos, partilham-se mentiras como o nome falso, a idade que não tem, o corpo que não carrega e esqueceram de apresentar a vida em sua verdade e transparência. No mais, o sonho hoje se sonha só e não mais como recomendou o poeta, o flerte quase que desapareceu e quando existe não tem mais a finalidade de conhecer o outro, mas de sugar-lhe o sangue e depois deixá-lo caído qual vítima de vampirismo. Se o tempo urge, então, o melhor mesmo é queimar etapas e, desse modo, passa-se logo para o beijo que mais tem gosto de sabe-se lá o quê misturado com indesejável momento posto que mal deu-se ao trabalho lento, mas saboroso da conquista que tem começo, meio e fim e não apenas fim. Mas, a lógica corrente é que o tempo não pára e, por isso, não há tempo a perder com conversas tolas. Afinal de contas, que conteúdo tem-se hoje para iniciar uma boa conversa? As pessoas se informam cada vez menos, os livros de literatura somem das estantes ou nem chegam a ocupá-las, a música que se escuta mais aliena que liberta e o filme que se vê nem vale a pena falar porque os roteiros são tão previsíveis, repetidos e destituídos de material que leve a pensar ou enriquecer o conhecimento do espectador que não passa de mais um entre outros. Quem não sabe como começa e termina Superman na sua recente versão? Bem, sem possibilidade de olhares que se encontram, de uma conversa interessante e de um beijo desejado, parte-se para a última etapa e, depois de abocanhar a presa, passa-se imediatamente para a próxima vítima que, como eu, caça e é caçada com a mesma avidez desinteressada. Nesse jogo de gato e rato, evita-se o encontro e, desse modo, a vida é negligenciada naquilo que tem de melhor: a vivência, gota a gota, do tempo que orvalha sobre nossas cabeças antes do sol da nova (des)ordem nascer.
Que um dia encontremos todos juntos o céu que nas palavras do poeta Rimbaud era o encontro do sol com o mar. Acrescento outro elemento a essa definição do poeta e digo que o céu é o encontro do sol com o mar, mas não apenas desses, uma vez que não há céu sem a presença do outro. E aqui o outro não significa apenas a pessoa humana de carne e osso, mas tudo aquilo que dá sentido à vida e que passa também pelas experiências diárias mais corriqueiras. Assim sendo, o céu é o encontro do sol com o mar e da experiência que o tempo sempre já ontem, hoje e amanhã me permite fazer desse encontro.

terça-feira, 13 de maio de 2008

A COR PÚRPURA


A COR PÚRPURA

Não é de agora que conheço o filme A cor púrpura. Já tinha lido alguma coisa na internet e, desde que obtive a primeira informação, me pus a procurar, embora não tenha tido êxito na busca. Só recentemente tive a grata oportunidade de assisti-lo e o fiz como um menino que ganha uma roupa nova e logo quer vestir ou uma caixa de bombons e a devora com ansiedade. Foi com uma disposição semelhante que digeri cada cena desse filme.
Custa-me tanto encontrar as palavras exatas, precisas e que dêem toda a dimensão da grandiosidade dessa obra que, por vezes, hesito, receio, deleto, reescrevo, temeroso de que as palavras escolhidas não alcancem suas extensões que são incomensuráveis. Mas, começo a lembrar de Celie e sua trajetória marcada por recomeços sutis e, prontamente, me ponho a escrever com o mesmo destemor que a cerca quando das cenas finais.
A obra, do diretor Steven Spielberg, narra a história de Celie (Whoopi Goldberg) e Nettie (Akosua Busia), duas irmãs que conhecem desde cedo os horrores de uma criação feita de medo e dor. O pai mantém relações sexuais com Celie com quem tem três filhos. Desses três, mata um e doa o casal Olívia (Lelo Masamba) e Adam (Peto Kisanka) a membros da igreja que participa. Celie não conhece os filhos nem os vê crescer.
Certo dia, aparece na fazenda, Alberto (Danny Glover), que manifesta interesse em casar com Nettie. O pai não permite que Nettie, por quem tinha desejo, siga com Alberto e entrega Celie que o acompanha e contrai matrimônio. Daí em diante, Celie é submetida a todo tipo de humilhação pelo marido que a mantém como uma escrava dele e dos filhos.
Depois de um tempo, Nettie foge da casa do pai, porque não agüenta sua insistente perseguição e procura Celie, com quem passa a morar. Após uma tentativa frustrada de Alberto em estuprar Nettie, que o recusa veementemente, aquele a expulsa de suas terras e a menina sai a perambular pelo mundo. Antes de serem violentamente separadas, Nettie promete escrever e diz que só não o fará se morrer. Daí em diante, a vida de Celie se transforma numa eterna espera pelas cartas de Nettie que não vêem.
Com a chegada de Shug (Maragaret Avery), a vida de Celie ganha rumo totalmente diferente daquele desenvolvido até então. Finalmente, alguém a vê e a ama como nunca foi amada. Esse reconhecimento do seu corpo, da sua existência e atributos faz Celie reunir forças para romper definitivamente com um passado de opressão e sofrimento.
No fim da trama, Celie e Shug descobrem as cartas que Nettie enviava e Alberto escondia. Nessas cartas, Nettie dá notícias de si e dos filhos de Celie que encontram-se na África. Após conseguirem o visto de emigração do consulado, os filhos de Celie, finalmente, puderam conhecer aquela de quem foram separados no nascimento. O reencontro com Nettie simboliza o reencontro com uma nova vida feita de respeito e dignidade.
Esse resumo dá uma idéia, em linhas gerais, do filme, mas seu conteúdo e as ações que o compõem vão além do que aqui está posto. Há histórias paralelas à história de Celie e que dão ao filme uma unidade dramática porque todas estão perpassadas pelo mesmo fio da intolerância e superação.
O filme é tão rico em temas para reflexão que fica difícil selecionar um para comentar. Não obstante a dificuldade em pinçar um tema que se sobressai aos demais, queria pontuar a passagem de uma existência inicialmente marcada pela mudez social, pela submissão resignada ao macho viril e por uma solidão que a acompanha desde que teve seus filhos arracandos dos seus braços e foi interditada na comunicação com a irmã por quem tinha laços profundos de amizade para uma existência que tem a coragem, num momento singular da vida, de olhar para seu algoz e gritar: "Eu sou negra, sou pobre e posso até ser feia, mas, Deus, eu estou aqui. Eu estou viva." Essa é toda liberdade.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Chegadas e partidas


CHEGADAS E PARTIDAS

Ficha Técnica

Título Original: The Shipping News

Gênero: Drama

Tempo de Duração: 124 minutos

Ano de Lançamento (EUA): 2001


Estúdio: Miramax Films / Columbia Pictures Corporation / TriStar PicturesDistribuição: Miramax Films

Direção: Lasse Hallström

Chegadas e partidas é um filme para poucos e, ao mesmo tempo, um filme de todos nós, porque toca - de maneira sutil ou agressiva – a vida humana em suas tantas peculiaridades e facetas.
Quando digo que é um filme para poucos não quero com isso restringir o público e afirmar que apenas alguns poucos privilegiados podem assisti-lo. Não é isso! A intenção nem poderia ser essa, uma vez que os fatos que compõem o enredo ou roteiro tratam de situações que todos, sem exceção, já vivenciaram ao menos uma vez na vida em proporções diferentes. Não obstante tratar de situações cotidianas com a quais nos identificamos, é preciso ter um olhar que não recaia apenas na superfície dos fatos retratados, na seqüência das ações, na fotografia que deslumbra uma após outra ou nas contradições, por vezes engraçadas, que fazem a vida de Quoyle (Kevin Spacey). A beleza do filme não reside apenas aí, de modo que é preciso assisti-lo como se vasculhássemos nas entrelinhas ou entrecenas os sentidos que não se entregam de imediato, aqueles que não se dão aos olhares entretidos, curiosos, desatentos.
Quoyle é um homem que recebeu uma educação rígida que minou sua auto-estima. Descrente de si mesmo e das próprias potencialidades é lançado num mundo que categoriza, seleciona e exclui aqueles que não correspondem às exigências que se impõem; ou seja, um mundo “onde os fracos não têm vez.” É constantemente posto à prova por esse mundo e suas parcas capacidades são esmagadas pela hostilidade desse arranjo social que já o esperava antes que nascesse.
Numa situação inusitada, Quoyle conhece aquela que será sua esposa (Cate Blanchett) e que não tem com ele uma relação de respeito e fidelidade. Ela morre num acidente de carro quando tenta seqüestrar a própria filha para vender para traficantes de órgãos humanos. Agora, Quoyle não é responsável apenas por sua vida, mas também pela filha que escapou à tentativa de seqüestro e voltou para casa.
Entre os cuidados com a filha, a casa e as diligências do trabalho, Quoyle recebe a visita de uma tia (Jude Dench) que resolve levá-lo à terra dos seus antepassados. Lá, a partir do encontro com a história dos seus antepassados, da convivência com as pessoas da comunidade de Newfoundland, do novo relacionamento com a misteriosa Wavey (Julianne Moore) e do emprego que possibilita acordar potenciais adormecidos, a vida de Quoyle muda para sempre.
Disso, temos que não foi evitando a vida que Quoyle conseguiu sarar as cicatrizes da infância deixadas por um educação que o desqualificava; antes, foi no encontro consigo a partir do encontro com o outro e com a própria história que foi possível superar seu maior medo: ele mesmo.
Nessa obra, de grande beleza humana e cinematográfica, o diretor Lasse Hallström supera-se mais uma vez.