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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Viña del Mar e Isla Negra

Quando estamos viajando, a relaçao com o tempo ganha um novo sentido diferente daquele que damos quando nos encontramos em nossa rotina. Passamos a medir o tempo nao pelo relógio ou calendário, mas pelas experiências vivenciadas e percepçoes que nos chegam a todo instante. Assim, ficamos perdidos no tempo, fora de órbita e corremos o risco da imprecisao no que diz respeito ao tempo seguido por rodoviárias e aeroportos. Isso tudo é para dizer que nao posso esquecer que hoje é segunda-feira (lunes por essas bandas) e amanha volto a Santiago para embarcar na quarta-feira logo cedo, bem cedo. Hoje resolvi ficar "de boa" no Hostel para descansar, organizar a cabeça, cuidar da mente e arrumar a bagagem que está uma bagunça. Antes de falar das minhas andanças em Viña del Mar e Isla Negra, vou discorrer rapidamente sobre um show que fui em Valparaíso no sexta-feira. O nome do grupo é Tapeku´A, oriundo do litoral da Argentina e apresentou-se no Centro Cultural IPA para uma plateia nada mais, nada menos, formada por três pessoas: eu e dois porteños. Isso nao diz nada acerca da qualidade musical do grupo que foi vítima, talvez, de uma divulgaçao insuficiente. No início da apresentaçao, pensei estar ouvindo música sertaneja em outra chave e, nao estava enganado, pois o grupo faz um som muito semelhante ao som sertanejo feito no Brasil, embora nao deem esse nome. A bem da verdade, o resultado do seu trabalho musical é uma mescla dos sons produzidos em território argentino. O produto dessa fusao é um som que extasia, eleva a alma, pacifica. Ao final da apresetaçao, trocamos algumas palavras e comprei o CD que traz uma capa com desenhos que remetem a elementos da natureza colocados nos espaços abertos da letra Y. Dentro da capa, um pequeno texto em castelhano (óbvio!) explica o tema e o conceito do CD. Vou reproduzir trechos do texto original: "Y...es agua, en guaraní. Tanto el elemento como el pueblo originario son parte intríseca de nuestra vida, y nuestra cultura. (...) "Y" es la síntesis del comienzo de Tapeku´a, ese "punto de encuentro", ese "a mitad de camino" donde nos encontramos y contemplamos nuestra realidad, evocando voces de la tradición popular que fusionamos para transformalas en nuestra música contemporánea. " Agora traduzam. Desse lado da América do Sul, a arte mantém um vínculo muito estreito com a natureza, de maneira que seus elementos ocupam temas ou sao usados em instrumentos que reproduzem seus sons originais. Acredito que o duo Tapeku´a persiga essa tradiçao. Em Viña del Mar. Finalmente cheguei aqui, última cidade do meu roteiro de viagem. Viña del Mar é uma cidade provinciana, talvez um pouco mais provinciana que Valparaíso, mas que apresenta um cenário mais moderno com grandes edifícios, largos restaurantes, orla marítima e ruas que deixam para trás o traço secular de Valparaíso. Desci próximo ao Relógio de Flores e disputei um lugar com os turistas que tentavam sua melhor foto. Eu também queria a minha e tive paciência em esperar que grupos enormes de turistas deixassem o local. Em seguida, andei pela orla e entrei em castelos que viraram centros de exposiçoes, passei em restaurantes que assumiram a forma de um navio e, finalmente, resolvi entrar na praia. Ops! Que é isso? Areia de praia? Embora cheio de dúvidas, segui em direçao ao mar e resolvi medir a temperatura da água. Nem de longe tomo banho nessas águas!!! Tá louco!!! A água é geladaaaa!!!! Ainda pensei em sentar numa cadeira e ouvir música ou ler um livro. Após alguns minutos observando o movimento, entendi que aqui os banhistas trazem seu guarda-sol e sua toalha, de maneira que nao existem donos de barraquinhas oferecendo cadeiras. Cada um no seu quadrado e com sua toalha e guarda-sol: essa é a lei!! Após minha tentativa frustrada de "pegar" uma praia no sábado, continuei percorrendo a cidade e fotografando praças, conhecendo museus e igrejas e parando para ouvir artistas de rua que descansam o viajante com seus sons peculiares e místicos, como me explicou um tocador de Didgeridoo, instrumento australiano usado em rituais indígenas. Ontem estive em Isla Negra, uma pequena praia a duas horas daqui que foi escolhida por Pablo Neruda para receber sua terceira casa. Enquanto esperava para conhecer a casa, aproveitei para explorar a praia e recolher as energias vindas daquele lugar privilegiado e rico em recursos naturais. Ali o Oceano Pacífico parece dançar e o sol invade a terra como um presente. Concluí minha visita à casa de Neruda no túmulo onde jaz seu corpo. Ali encerrei minha viagem e entendi todo percurso realizado nas palavras do último livro de Neruda: "Confesso que vivi." É isso.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Valparaíso

Acordei às 10h30 e quase perdi o café da manha que é servido até às 11h. Diferentemente dos outros hostels onde me hospedei, foi servido apenas pao, geleia, margarina e café. Nao vi com bons olhos, mas me dei por satisfeito. Compensei no almoço do Color Café que fica pertinho do hostel e tem uma decoraçao muito bizarra. Aqui costuma-se servir uma entrada que geralmente é pao francês cortado em rodelas e molho, patê ou pimenta (come-se muita pimenta por essas bandas). A entrada do Color Café é um pouco mais farta, de maneira que primeiro veio o pao com dois tipos de molhos, depois salada (ou ensalada, como queira), sopa (desconfio que era feita de abacate porque aqui abacate nao é fruta, mas verdura) e, enfim, o almoço que estava de lamber os "beiço". Mas nem pense que tudo está acabado... Esqueci de falar da sobremesa que foi uma deliciosa panqueca com doce de leite, mel e banana... Hum... Dessa vez quase como os beiços!!! Comecei minha peregrinaçao pelo Cerro Concepcion e depois segui ao centro de Valparaíso. Vale lembrar que estou num cerro, ou seja, no alto de uma serra e, assim sendo, é até fácil descer, mas subir é "rojao". Se estivesse ganhando por difícil acesso em Valparaíso já estaria milionário. Sim! Milionário! Porque as notas de $10.000 nao me fizeram um milionário, entao estou buscando outras alternativas. Durante minhas andanças pelo cerro e centro, descobri galerias de arte que expoem obras de artistas que têm certa visibilidade no cenário das artes plásticas chilenas. Dois desses artistas chamaram muito minha atençao e comprei os postais que trazem algumas de suas obras. Sao eles: Loro Coirón que produz uma arte baseada em cenas do cotidiano e Beto Martínez que lança mao de um surrealismo que é possível ler e traduzir suas representaçoes. Nessas galerias, ainda se expoe obras de escultores, cartunistas e chargistas. Continuei andando pelo cerro e, no mirante, uma mulher com uma espécie de bacia com tampa envolvia os passantes no som que retirava daquele instrumento desconhecido. Ouvi, contribuí e perguntei. Quer saber o nome do instrumento? Hang. E foi criado em Bern, Suiça alema, no ano de 2000, por Sabina Schaerer e Felix Rohner. Comprei o CD que foi dedicado a Buda e se intitula "For Budha". Segui pelo centro, fotografei praças, monumentos e o porto que é de uma beleza singular. Depois de muito andar, subi o cerro Bella Vista e procurei o cerro seguinte, Florida, onde fica a casa de Pablo Neruda. Depois de muito subir, subir, subir, até as pernas cambalearem, encontrei "La Sebastiana". A casa, que se organiza em cinco pisos e foi saqueada durante o golpe militar, virou museu e abriga muitas das coleçoes de Neruda. Ao longo dos andares, pituras, esculturas, jogos de porcelana, cavalos, se distribuem e dao uma identidade ao lugar que nao poderia ser de outra pessoa, senao de Neruda. Nessa visita, chamou-me atençao o pôster do Walt Whitman que ocupa um tamanho considerável da parede do escritório. Além de Whitman, Neruda tinha em Baudelaire e Arthur Rimbaud seus ícones. Dos andares, uma vista belíssima da baia que o poeta desfrutou durante os anos que ali viveu. Na volta para casa, ainda entrei numa livraria e comprei o livro do escritor portenho, Manuel Peña Muñoz, chamado "Valparaíso: la ciudad de mis fantasmas". A obra, autobiográfica, traz relatos do autor acerca dos anos que viveu em Valparaíso. E aí chega a noite e o cansaço que nao perdoa. Para finalizar, queria citar o título da exposiçao do Loro Corión que me pôs em estado de reflexao, mais ou menos como acontece com os personagens clariceanos, ou seja, num estado de epifania: "Como si la vida fuera a durar para siempre." Penso que é essa impressao e esse sentimento que as belezas de Valparaíso nos imprimem e fazem sentir.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Santiago e Valparaiso

O povo chileno tem suscitado muitas impressoes seguidas de perguntas que espero respondê-las a partir de um olhar que se volta, por um lado, para o cotidiano e, por outro, para a literatura, a música e o cinema produzidos aqui. Tenho conversado com muita gente, ouvido muitas histórias e visto um panorama amplo e múltiplo que mais parece uma colcha de retalhos costurada com a linha da esperança e otimismo. Chilenos convivem com diversas condiçoes climáticas e ambientais que se estendem ao longo do país. Vivem sob a sombra dos terremotos que assombra suas vidas, embora prefiram viver como se nao existisse e, por isso, nao falam neles desde que nao sejam questionados. Ontem, conversando com um cineasta enquanto comprava o filme chileno "Machuca" do diretor Andrés Wood, fiquei sabendo que o Chile ainda vive sob os resquícios de uma ditadura que censura produçoes artísticas que denunciam as arbitrariedades do governo atual. Durante a conversa, disse-me que a película que estava levando nao seria encontrada facilmente em Santiago porque era uma película censurada pelo governo. Devido a essa censura, o filme nao podia ser exposto na vitrine, mas escondido entre outros filmes que ficavam por trás do balcao da loja. Viviana também me confidenciou que o governo intenta mudar o termo "Ditadura Militar" por "Governo Militar". Essa é uma maneira de dissimular a opressao infligida ao povo chileno. A universidade pública é paga e paga-se muito dependendo do curso que se quer fazer. Isso produz uma profunda desigualdade social no país que privilegia com o conhecimento uma pequena parcela da sociedade que tem condiçoes de pagar os estudos. A mídia tem divulgado as muitas mobilizaçoes que os estudantes têm realizado, a fim de que a universidade pública seja gratuita e de excelência. No Chile há muitos peruanos que se acomodam nos bancos das praças ou trabalham pesado em seus restaurantes que oferecem um cardápio tipicamente perurano. Em Santiago, aproveitei para provar a culinária peruana e, se estivesse no programa da Ana Maria Braga, passaria embaixo da mesa, sem dúvida. A arte chilena tem uma coloraçao e um contorno próprio de um povo que foi colonizado ou recebeu em seu território tantos outros povos que construíram esse país. Em suas características multiculturais, abriga diferentes segmentos e produz um modo bastante particular de ler, compreender e expressar sua visao de mundo por meio da música, da literatura, do folclore etc. Hoje cheguei em Valparaiso e estou muito deslumbrado com o que encontrei aqui. Essa cidade tem alma e tem identidade. O nascimento de Valparaiso data da primeira metade do século XVI e, recentemente, foi reconhecida como Patrimônio Histórico da Humanidade. Cercada de serras e contemplada por um clima próprio a cidades serranas, Valparaiso foi invadida por artistas que se apresentam em suas ruas estreitas e dao vida a uma cidade que já teve 40% das suas construçoes destruídas por um terremoto ocorrido em 1906. Ao percorrer a cidade, encontrei um dupla de mulheres que tocava tango romântico e parei sob o céu-azul-felicidade para avistar o mar-azul-delicadeza e ouvi-las tocar. É isso.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Santiago do Chile

Deixei Mendoza/Ar às 13h30. Nao foi sem um leve peso no coraçao que deixei as terras argentinas. Experiências que se acumulam na memória e descobertas que me acompanham fizeram com que nascesse um vínculo com aquele povo e sua cultura. Na Argentina, aprendi, entre outras coisas, que a arte pode alargar a consciência, moldá-la, de maneira que novas atitudes de responsabilidade, respeito, cuidado e compaixao nascem desse contato com as manifestaçoes artísticas. Lembro bem que em Rosario encontrei um monumento dedicado aos perros (cachorros). No alto de uma base de cimento, a estátua de um cachorro que lembrava aqueles bustos que no Brasil só se erguem para homenagear pessoas ilustres (algumas nem tao ilustres assim...). Esse "busto" é dedicado aos cachorros de rua. Isso mesmo! Cachorros de rua que sao cuidados pela prefeitura. Fiquei impressionado e convicto de que as pessoas, ou melhor, a consciência daquele povo, era diferente. Viajei pela empresa Cata que me cobrou algo em torno de $190 pesos pela passagem. Refiz o caminho pela cordilheira que havia visitado no dia anterior. Tudo estava muito bem até chegarmos na Aduana que inspeciona os ônibus e documentaçao dos passageiros antes de entrarem no Chile. Passamos nesse lugar nada amigável aproximadamente duas horas e meia. Foi tenso. Seguimos viagem por território chileno e a paisagem até Santiago era deslumbrante. Montanhas, colinas, vegetaçao, riachos, rios, e neve emolduravam nosso caminho. Logo que entramos no Chile, começamos a descer as montanhas e curvas que nao acabavam e pareciam querer amedrontar. Mas as curvas nao foram suficientes para amedrontar os viajantes, entao, de quebra, ainda tínhamos precipícios que beijavam a ruta (estrada). De repente, medo e deslumbre se misturam na gente e a fotografia nos serve como meio de catarse. Libertados pela fotografia e/ou filmagem, seguimos nosso caminho. Nos bancos de trás, viajantes brasileiros gritavam excitados: "Solta a embreagem!¨ Brasileiros sempre fazendo um barulho, uma algazarra. Faz parte do nosso show... rs
Quando chegamos em Santiago, tivemos um problema com um engarrafamento perto da rodoviária, de maneira que cheguei ao apartamento de Viviana às 23h. Bem recebido e bem acomodado, cuidei em descansar pois tinha um dia todo pela frente para explorar Santiago. Depois de ficar milionário...Nao está acreditando? No Chile fiquei milionário, pois aqui, além de circularem notas de $5, $10, $20 pesos, circulam também notas de $1.000, $2000, $5000. Quando saí da casa de câmbio e abri as notas, pensei que haviam errado e quase voltei para devolver. Foi assim que entrei milionário no Chile ... A triste verdade de tudo isso é que alegria de pobre dura pouco e, quando fui pagar o taxista que ouvia sem parar: "menina, menina, assim você me mata/Ai se eu te pego/Ai, ai se eu te pego", tive que desembolsar $6.000. Nao pense você que isso aqui vale muita coisa,porque nao vale. Ontem conheci o centro de Santiago e pude comparar Santiago a Buenos Aires. As pessoas de Santiago nao expoem toda aquela elegância que as de Buenos Aires fazem questao de expor. Em vez de uma elegância ao molde europeu, traços indígenas (que também têm sua elegância)sao exibidos pelas pessoas simples e trabalhadoras que percorrem as ruas de Santiago. No centro, conheci a Praça das Armas que traz em suas organizaçao a marca dos espanhóis, uma vez que distribui em seu espaço uma igreja, Correios, um órgao do governo e um museu. Batendo perna pelo centro, encontrei o Palácio da Justiça, o Teatro Municipal, igrejas históricas, a Biblioteca Municipal, praças, a Bolsa de Valores e outras tantas maravilhas que Santiago consegue manter intacto apesar dos terromotos.
À noite, saí com Viviana e fomos ao Bela Vista. Durante o passeio noturno, Viviana mostrou-me o Museu de Belas Artes, o Museu de Artes Visuais e a casa de Pablo Neruda. Depois sentamos num barzinho e tomamos uma cerveja que traz nome alemao, mas é fabricada no Chile. Hoje voltei ao Bela Vista e fiz uma visita guiada pela casa do Pablo Neruda. Há a identidade do Neruda pulsando naquela casa. Foi muito bom encontrar fotografias e matérias de jornal que traziam Neruda, Vinicius de Moraes e Jorge Amado. Fiquei sabendo também que o poeta Thiago de Mello mantinha uma relaçao estreita com Neruda e foi seu tradutor no Brasil. Em seguida, subi um mirante de bondinho (aqui se dá outro nome, mas nao lembro agora). No alto do mirante, um zoológico, piscinas e um santuário. Uma visao panorâmica da cidade é possível desse lugar. Para finalizar a jornada de hoje, visitei o Museu de Belas Artes que, além das clássicas esculturas, apresenta exposiçoes de artistas locais. Bem, por hoje é só. Só mais uma coisa: a imagem abaixo mostra a visao que se tem de Santiago do alto do cerro ou mirante.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Mendoza/Aconcagua

"O mundo é bao, Sebastiao!" É com essa frase retirada de uma música do grupo Titas que inicio o post de hoje. Se o bom de viajar é a descoberta, o melhor é encantar-se. E quando a gente se encanta, o mundo deixa de ser apenas "bao", como diz o trecho da música, e passa a ser objeto de admiraçao. Exercitar a admiraçao por um mundo que nao é apenas "bao", mas também absurdamente belo porque organizado e harmônico, torna-nos responsáveis por esse mundo. É essa reflexao que vem à tona quando visitamos a Cordilheira dos Andes. É sobre a cidade de Mendoza e a Cordilheira que falarei hoje. Mendoza é uma cidade pequena e com uma paisagem um tanto proviciana, embora a McDonald´s e o Carrefour já tenham aportado por aqui. Nao obstante, Mendoza conserva comportamentos, estrutura e hábitos tipicamente interioranos. As pessoas daqui nao exibem beleza nem sao tao bem vestidas como as de Rosario e Córdoba. Isso faz de Mendoza uma cidade familiar, e onde se pode caminhar mais à vontade. O que torna Mendoza uma cidade atraente é o turismo que se constitui de trilhas, lugares paradisíacos, Cordilheira dos Andes, Aconcagua, prática de rafting, riding etc. No mais, a cidade nao apresenta grandes atrativos. Numa tarde, você percorre algumas praças, como a Chile, a Italia, Independencia, San Martín e España. Como anoitece bastante tarde aqui, a partir das 21h (hora que o comércio começa a baixar as portas), você pode esticar e conhecer um dos maiores parques da América Latina, o San Martín. É um parque que ocupa uma área de 400 hectares e reúne cerca de 550 espécies vegetais. Além disso, um lago que é bastante usado para a prática de canoagem, salta aos olhos. Vale a pena reservar um bom tempo para explorar esse parque que é um dos grandes atrativos da cidade. Aqui também encontrei autores de prosa e poesia que contribuem para a literatura mendoncina e do país. Hoje acordei cedo, porque às 7h15 o transfer passava para começar a excursao pela Cordilheira dos Andes. Saímos do hostel acompanhados por uma guia muito divertida, simpática e sem papas na língua. Ao todo, éramos dez turistas prestes a descobrir as maravilhas dentro da Maravilha que é a Cordilheira dos Andes e o Parque Aconcagua. Nesse grupo, existiam franceses, holandeses, bolivianos, polacos, argentinos e um brasileiro, eu :). Deixamos Mendoza às 8h30 e, desde entao, os olhos dilatavam diante de tanta beleza natural. A Cordilheira está dividida em três partes (ainda lembro da nossa guia louca explicando isso e pedindo para que as peguntas fossem feitas apenas em espanhol): Pré-Cordilheira, Cordilheira Frontal e Cordilheira Principal. A Cordilheira dos Andes é uma vasta cadeia montanhosa que vai da montanha mais baixa a mais alta e sua classificaçao é dada de acordo com o tamanho das montanhas. Sendo assim, a Pré-Cordilheira refere-se àquelas montanhas baixas, a Cordilheira Frontal àquelas de tamanho mediano e a Cordilheira Principal àquelas que chegam a 6.962m, como é o caso do Aconcagua. Fizemos um longo percurso, intercalado por pequenas paradas para "sacar" (tirar) fotos. Ao longo do passeio, a guia (louca, louca, louca...) explicava sobre povos que habitam aquelas áreas que ficam ao pé da Cordilheira, o rio Mendoza que nasce do degelo da neve que cobre as montanhas, linhas de trem desativadas, "rutas" rodovias destruídas etc. Paramos, paramos, paramos e, extasiados diante de todo aquele espetáculo natural, "sacávamos" (totalmente em portunhol) muitas fotos. Enfim, chegamos ao Parque Aconcágua. A van fez o transporte até determinado trecho e depois ficou por nossa própria conta e risco. Tínhamos que fazer um longo trecho a pé, pisando sobre pau e pedra. De longe, avistamos o imponente e amedrontador Aconcagua: objeto de desejo de muitos montanhistas. Cercado de montanhas, vegetaçao rasteira, lagos de águas límpidas, clima seco e frio, montanhas vestidas de neve, parei e pensei: "O mundo é bao, Sebastiao." É isso.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Córdoba/Mendoza

Buenos dias, amigos!! Finalmente cheguei em Mendoza. Após dez horas de estrada, encontro-me perto do Aconcagua, da Cordilheira dos Andes e do Chile. Saí de Córdoba às 13h30 e cheguei em Mendoza às 00h30. Pensei que o tempo de viagem era o mesmo dos outros trechos (cinco horas) e acabei saindo tarde de Córdoba. Ainda na Província de Córdoba, muita chuva e nuvens bem pesadas. Acredito que os cordobeses devem ter dançado muito o toré, porque o calor estava infernal e a chuva veio com força. Córdoba tem festival de música? Tem sim, senhor!! No domingo à tarde, rolou um festival de música na praça Sarmiento e assisti o pedacinho de uma apresentaçao de uma banda formada por jovens que tentavam animar o público anêmico e indiferente que lotava a praça. Dali, segui pelo parque, destino predileto dos cordobeses aos domingos. Toalha lançada sobre a grama, família reunida, muitas empanadas, medialunas e alfajor...Pronto! A farra do cordobense está completa. E nao se pode deixar de citar a Coca-Cola, objeto bastante cultuado nessa parte do mundo. Na segunda-feira, acordei cedo, melhor, acho que nem dormi porque o calor me cutucava a todo instante. Embora o passeio do hostel nao tenha acontecido, peguei minha câmera e fui à cidade de Alta Gracia às pressas para nao perder a hora do café da manha na casa de Che Guevara. É isso mesmo que vocês acabaram de ler! Che Guevara viveu em Alta Gracia e, na casa onde viveu, hoje funciona um museu. Mas nao é só a casa de Che que Alta Gracia, cidadezinha guardada pelas serras de Córdoba, apresenta ao turista. A cidade também abriga a Parroquia Nuestra Señora de la Merced e as Missoes Jesuíticas, ambas tombadas pela Unesco e feitas patrimônio da humanidade. Além dessas obras de grande valor histórico e do Museu Che Guevara, Alta Gracia presenteia o turista com o Museu Manuel Falla e o Museu Dubois. Como toda cidade serrana, Alta Gracia exagera nas ladeiras e, ao fim do dia, as pernas imploravam por descanso. Antes de sair de Córdoba, voltei ao centro da cidade que se encontrava bastante movimentado e tomado por brasileiros que visitavam as construçoes históricas. Saí procurando música e literatura produzidas por cordobeses. Encontrei materiais interessantes e acredito que estou levando o melhor da Argentina para casa. Aqui tenho me virado muito bem com meu portunhol e, de tanto ouvir as diferentes versoes da língua, estou perto de falar espanhol. Aproveito para fazer uma imersao na língua e leio tudo que me aparece. Nada passa despercebido. É assim que descobri que "tapa" aqui significa "camada" e, desse modo, nao pense que um tapinha argentino nao dói, pois, dependendo do material da camada, pode doer bastante. Ontem o recepcionista do hostel onde estava hospedado, explicou-me que uma comida "extraña" é uma comida muito boa e ainda bem que descobri a tempo que "gaseosa" é refrigerante, do contrário, nao teria sabido escolher entre café ou gaseosa quando me ofereceram no ônibus. Enfim, curiosidades de uma língua que tem me fascinado. Vou nessa, porque mais tarde tenho Mendoza para explorar e na quinta, Aconcagua. Vou escalar e gritar bem alto: Yo estoy bien!!!!!

domingo, 8 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Córdoba

Ontem deixei Rosario às 13h e vim a Córdoba. Antes de dizer "adiós" a Rosario, fui com Mauricio ao centro da cidade, pois precisava trocar real por peso e procurar um livro que reunisse poemas lidos no Museu da Cidade no dia anterior. Comprei o livro e os pesos. Por falar em peso, Rosario é um celeiro de poetas, contistas, romancistas e representa para a Argentina uma arcádia literária de peso. Trouxe comigo a antologia do poeta rosarino, Aldo Oliva, e deixei uma dica de viagem (praia de Genipabu-RN)com a moça que me atendeu. A sua mae encontra-se em Pipa e pensei que ela nao poderia deixar de conhecer Genipabu, praia que me encheu os olhos quando estive em Natal. Ainda passamos numa loja de souvenir e arrastei mais duas ou três lembranças da cidade (a mochila já nao suporta mais e nem minhas costas). Voltamos ao apartamento, e tentamos ocupar o tempo com conversas sobre o que vimos e ouvimos nesses dias passados na encantadora cidade de Rosario. Além das comidas típicas que Mauricio e Adriana já me haviam apresentado (medialunas, facturas e um prato peruano que por ora nao lembro o nome), tivemos um almoço intimista, saudoso e ao sabor de empanadas variadas. Só consegui comer duas, pois ainda pesavam em meu estômago as danadas das medialunas. Adriana fez questao de preparar minha sobra para viagem e pronunciou suas últimas palavras antes da minha saída: "Com amor." É isso. Foi com muito amor que fui recebido na prosaica cidade de Rosario e foi morrendo de amor pela estrada que segui a Córdoba. Durante o percurso, lindas paisagens alternam-se com trechos secos e as horas pareciam arrastar-se. É nisso que dá ir no pinga-pinga... E o daqui segue na base do contagotas!!! Desembarcando na rodoviária, peguei um táxi e fiquei muito incomodado com o volume do som que o taxista ouvia enquanto se balançava e lia mensagens no celular. Pensei: "Será que sou obrigado a ouvir esse som nesse volume?" Mas como dizer isso em espanhol sem ser agressivo? Nao encontrei nem as palavras nem a maneira certa de dizê-lo, entao, resignei-me. O hostel onde estou hospedado é bastante simpático. Na chegada, conheci brasileiros de Londrina que fariam check-out naquela noite e seguiriam em direçao a Mendoza, meu próximo destino. Após o check-in, acomodei minha bagagem e fui tomar banho pois o calor aqui está de matar! Em seguida, andei um pouco pela cidade, a fim de me situar e o que vi agradou bastante. Córdoba é uma cidade bastante turística. Por aqui, passam constatemente viajantes em busca de ecoturismo e esportes de aventura. Mochileiros circulam o tempo todo pelas ruas da cidade, carregando mochilas que mais parecem sua própria casa. Aproveitei para fotografar a noite de Córdoba e acabei chegando a museus, praças e ruas bastante graciosas. A expectativa já estava criada para o dia seguinte... Hoje explorei a cidade e, durante meu tour, passei pela Praça de San Martin, Catedral e Cabildo, Igreja da Companhia de Jesus, Teatro Libertador General San Martin, Passeio da Flores e das Artes, Shopping Center Patio Olmos e muitos, muitos outros pontos turísticos que Córdoba exibe com orgulho. Orgulho...Sim. Essa é a palavra que melhor define o povo cordobense. Em vários monumentos, o turista encontra placas com a frase: "Maravilha de Córdoba." A igreja do jesuítas é patrimônio histórico e nao sei se poderíamos chamar de construçao, prédio ou igreja somente. Eu saí de lá pensando ter saído de um museu de belas artes. É espantosamente bela. Mas nao só ela. A igreja das Carmelitas Descalças também é de uma beleza ímpar, o Museu de Belas Artes extravasa em encantos, o prédio do Shopping Olmos, estarrece. Toda Córdoba é bonita. Aqui nao há botecos, bodegas ou coisa semelhante. Todos os cafés, bares e sorveterias seguem um altíssimo padrao estético, de maneira que o turista fica sobressaltado de par em par. Pessoas que nem parecem ser desse mundo de tao lindas, desfilam pelas ruas e parecem estranhar o turista que é constante por aqui. Eles estranham, mas nao ignoram. Hoje recebi liçoes de espanhol da atendente de um café onde tomei meu café da manha. Ela disse que aquilo que eu pedia como suco, pronunciava-se "jusgo" (algo próximo a rusgo) e eu saí, além de muito bem alimentado, agradecido e à vontade por estar entre pessoas que se respeitam e sabem exercer o fino trato. Amanha, se tudo der certo, irei à cidade Alta Gracia. Nessa cidade, viveu Che Guevara. Um de seus atrativos é o Museu Che Guevara, que se soma a uma paisagem natural de exuberância inquestionável. Mas vamos deixar isso para amanha, che!!! Gracias.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Rosario

Buenas tardes, chicos(as)! Estou em Rosario, mas vou voltar no túnel do tempo para falar das últimas vivências em Buenos Aires antes de sair do hostel ao meio-dia. Na quarta-feira, chegou uma turma do interior do Rio (lembra daquela música "o Haiti é aqui...", pronto, é só trocar Haiti por Brasil que você entende BsAs) e dois cariocas ficaram em meu quarto. A princípio, estavam muito preocupados com o sistema do hostel porque nao acharam seguro; entao, eu cuidei de pôr um pouco de lenha na fogueira e disse que tivessem cuidado com o peso argentino porque circulava muita moeda falsa. Tadinho dos cariocas... Puseram-se a averiguar o dinheiro e descobriram que já tinham recebido algumas notas falsas. Juro que nao queria causar pânico, apenas esclarecer. Sou bonzinho e vou pro céu. Desesperos à parte, trocamos ideias sobre o Rio, BsAs e Recife. Agora éramos quatro viajantes (uma alema e três brasileiros) e um ventilador de teto quebrado (ninguém merecia o roncado desse ventilador). No dia seguinte, durante o café da manha, conheci três paulistas e uma argentina. Conversamos muito sobre a Argentina, música clássica, viagens e fotografia. Pena que minhas horas em BsAs estavam se esgotando... Logo agora que começava a criar laços. Ainda bem que existe Facebook pra resolver esse problema. Após as fotos feitas na entrada do hostel, peguei o Face de todos (paulistas e cariocas) e me despedi. Cheguei na boleteria (bilheteria pra gente)do metrô e pedi um bilhete (as pernas tremiam feito vara verde, pois temia ouvir aquela denúncia de dinheiro falso). Nao aconteceu. Cheguei na rodoviária (estácion de bus em espanhol... mais ou menos isso) e fui comprar minha passagem. Peguei a fila da primeira agência que vi que vendia passagens (passajes) para Rosario e fiquei aguardando numa fila que se arrastava. De repente, alguém atrás de mim pergunta alguma coisa que nao entendo e, para nao ser deselegante, respondi "si", "si", e completei com um sorriso. Mas nao era coisa boa, nao. Continuei na fila como se nada tivesse acontecido. Daí, a pessoa insistiu. Dessa vez, mostrou-me um papel e pronunciou palavras das quais entendi duas ou três. Essas duas ou três foram suficientes para entender que eu estava na fila errada. Essa bendita fila, que se arrastava feito bicho preguiça, era reservada aos que traziam um documento do governo que garantia descontos nas passagens ou isençao de pagamento. Eu todo esperto querendo passagem de graça... No embarque, passei por outro embaraço. O ônibus que constava na passagem demorou a chegar e ninguém sabia como deveria proceder. O motorista dizia que era aquele, entao eu subia. Daí, batia aquela desconfiança, perguntava ao funcionário da empresa que fazia o embarque e esse dizia que nao era aquele ônibus. Pego minha mochila e desço. Falo com outra pessoa, também funcionário da empresa e esse me fazia subir. Sei que depois de tanto sobe e desce, disseram que deveria ir no ônibus que se anunciava "Resistência" e descer na primeira parada para pegar o Salvador-Mazzi. Os ônibus na Argentina sao muito bons. Todos que vi tinham primeiro andar e serviço de bordo. Sentei-me ao lado de uma boliviana que viajava com sua filha mui bela (bela para quem está viajando, porque viajante acha tudo lindo e digno de foto). Fiquei surpreso quando, após uma longa parada, o funcionário começou a distribuir uma bandeja que trazia sanduíche, biscoito e bolo (Ah! O dono da Jotude tem muito que aprender com os argentinos). Cheguei em Rosario no início da noite e encontrei aqui um casal que é muito simpático e acolhedor, além de uma cidade que permite, nao obstante os problemas sociais que apresenta, uma qualidade de vida satisfatória. Em Rosario, com meus novos amigos, aprendi muito sobre a história da Argentina e de Rosário especificamente. A cidade desfila vários parques, pessoas bonitas, gente elegante e artistas que perambulam por sua ruas planas e bem cuidadas. Saímos ontem à noite para conhecer um pouco da cidade (o que conheci já vale uma viagem inteira) e hoje passamos o dia nos belíssimos e tranquilos parques e museus de Rosario. Enquanto eles descansam, escrevo essas linhas e aguardo o festival de jazz que iremos assistir à noite, com seus amigos, junto ao rio Paraná. Amanha sigo para Córdoba, carregando saudade de Rosário.

Crônicas de um viajante em Rosario

Postagem rápida. Estou em Rosario, após cinco horas de estrada. Sinto-me nostálgico de Buenos Aires e encantado com Rosario. Fui recebido por um casal muito simpático que me levou ao centro da cidade e compartilhou conhecimentos em espanhol. Vou ficando por aqui... Salud!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Buenos Aires

Buenas noche, chicos y chicas! Cada dia melhor...rs Segundo dia em Buenos Aires e meus pés já gritam por todos os poros. Hoje foi bastante cansativo, mas nao (o til tá de folga novamente) me dei por vencido. Mas antes de falar do percurso desse segundo dia, gostaria de destacar a quantidade de brasileiros no hostel e nas ruas de Buenos.Quase nao tenho ouvido espanhol nas áreas turísticas. Ontem estacionaram uma van na frente do hostel e desembarcaram milhares deles (estou falando baixinho porque há quatro ou cinco bem pertinho). Às vezes, bate uma dúvida que chego a perguntar: "Estou mesmo fora do Brasil?¨ Brasileiros formam a parte descontraída, festiva da cidade; além de injetar muito dinheiro na economia argentina (eu sou quase zero econômico aqui e, dessa maneira, nao me tomem como exemplo do que acabo de falar). Mudando de assunto... Quero registrar o defeito no ventilador que parou de funcionar de uma hora para outra na noite de ontem e a porta do quarto que insiste em querer entrar sem bater. Empilhamos livros embaixo da porta, mas nada consegue mantê-la fechada. Temos nos divertido com isso... Acerca do povo argentino, continuo com as mesmas boas impressoes do primeiro dia. Nada mudou. Hoje nao levei bronca do guarda por tentar entrar nos parques após o horário permitido nem da funcionária do metrô por tentar passar nota falsa (que vergonha!!). Aí vao algumas peculiaridades do povo argentino: a) as pessoas aqui fumam muito e, de acordo com minha estimativa do olhar, mulheres parecem fumar mais que os homens. Acho que a campanha contra o tabaco ainda nao chegou por aqui; b)argentinos nao se esforçam por entender-nos em português. Quando meu portunhol dá defeito, nao há acordo e corro o risco de ficar sem a informaçao. Ainda bem que tenho um bom vocabulário e acabo encontrando uma palavra em português ou inglês que permite o entendimento; c) os argentinos têm um senso de nacionalidade e patriotismo notório. Isso aparece nas bandeiras hasteadas em vários prédios e expostas em estabelecimentos. Outros elementos da cultura argentina também sao bastante explorados pelo comércio, como a Mafalda, o tango, a seleçao nacional de futebol, entre outros; d) os argentinos sao comedidos. Hoje presenciei uma tentativa de assalto no metrô(durante o embarque), e a vítima pronunciou "polizia" de uma maneira que parecia chamar a mae dele. Em seguida, outra pessoa repetiu "polizia" de modo moderado (nada de: - Polícia, pegue o filho da puta que tentou me assaltar). Aqui há polidez até na hora do desespero. e) os argentinos sao bastante conscientes dos seus direitos e deveres e ainda trazem o espírito revolucionário de Che Guevara cunhado em suas cabeças. A figura de Che aparece em vários lugares e objetos. Depois desse longo resumo sobre o perfil do argentino, vou brevemente falar das minhas andanças e descobertas. Pela manha, conheci o bairro bucólico de San Telmo que verte nostalgia em suas construçoes históricas e em estilo colonial. Passei pelo parque Lezama, a Igreja Ortodoxa da Santíssima Trindade, Museu Histórico Nacional, Museu de Arte Moderna etc. Algumas coisas chamaram minha atençao nesse bairro: a arquitetura, a presença de judeus e pessoas puxando entre seis e oito cachorros. Mal consigo dominar minha basset, de maneira que nao consigo me imaginar conduzindo dez cachorros. Acho que isso justifica a quantidade de cocô deixada pelos bichinhos com o pleno consetimento do dono. Depois do agradável San Telmo, segui a La Boca e Caminito. Durante o percurso, parei para fotografar o estádio do Boca Juniors (sugiro que mudem as cores do estádio). Ali comprei souvenirs e segui em direçao a Caminito. Esse museu de rua arranca suspiros de qualquer pessoa. É um lugar colorido, onde pululam artistas e objetos de arte. O tango toma conta das ruas e é possível assistir a uma apresentaçao de tango sem pagar nada. Nesse lugar, almocei e voltei de ônibus a 9 de Julio. Paguei $1,20 no ônibus que dispensa cobrador. O passageiro deve trazer moedas e depositá-las numa máquina que, após reconhecer o pagamento, libera um ticket. Diga-se de passagem, o ônibus estava cheio de brasileiros e eu me atrevi a ensiná-los a chegar a Casa Rosada. Espero que tenham consigo chegar com minhas informaçoes truncadas. À tarde, voltei ao hostel porque esqueci de recarregar a bateria da câmera. Por volta das 16h30, voltei a Palermo para conhecer o Jardim Botânico e o zoológico. Esse último nao foi possível, pois novamente cheguei após o horário de funcionamento. Em seguida, fui procurar a rua onde o escritor argentino Jorge Luis Borges nasceu e descansar em uma das tantas praças que Palermo abriga. Quando voltava, comprei uma camisa bombástica do Pink Floyd (The Wall). Com a coluna e os pés em dores de parto, peguei o metrô e voltei ao hostel. Ao fim do dia, fiz um balanço do quanto aprendi de espanhol e fiquei intrigado em saber que o significado de venta aqui nao tem nada a ver com aquela palavra que costumava nomear nariz quando, menino, conversava com os amigos em Garanhuns. Em espanhol, "venta" significa venda de vender. É isso mesmo. Por exemplo: "Venta tarjetas" significa venda de cartoes e nao um adjetivo para nariz ou coisa parecida. Essas línguas malcriadas dao o que falar (se for em espanhol, melhor). Fin. P.S.: Próxima parada: Rosario. Deixo o hostel às 11h e sigo envolto em perplexidades deixadas pela beleza da capital argentina.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Buenos Aires

Segundo dia em Buenos Aires. Após uma noite quase passada com olhos arregalados, acordei às 8h30 e fiquei logo pronto para desbravar uma das cidades mais elegantes da América do Sul. Após o café da manha, segui em direçao à Av. 9 de Julio. Durante o percurso, tropecei em belíssimas construçoes e, sobressaltado pelo tropeço, parei e comecei a fotografar as linhas e desenhos de uma arquitetura bastante peculiar. Em toda Buenos Aires, encontramos prédios que conservam uma arquitetura rústica e tradicional convivendo com construçoes pra lá de modernas. A passos largos pela cidade e olhar atento, a câmera nao parava de trabalhar. No centro da cidade, a atençao repousou sobre a Basílica Nuestra Señora del Rosario (Ordem de Predicadores - Convento de Santo Antonio). No pátio em frente à igreja, reina imponente o Monumento El ejercito de la nacion creador de su glorioso bandera (acho que o nome é esse, se não for - que alegria! encontrei o til rs - acabo de batizá-lo com esse nome). Segui sem direção (ainda vou comprar uma bússola para parar com isso) e, entrando e saindo por ruas que conservam um traçado secular, cheguei ao Ministério da Defesa, Museo del Bicentencenario e, totalmente por acaso, dei de cara com a famosa Plaza de Mayo e a Casa Rosada. Entre tantos turistas que fotografavam a praça, brasileiros se esbarravam o tempo todo. Cheguei a pensar que não tinha saído do Brasil. Após muitas fotos na Plaza, que é palco de protestos contantes, bateu "aquela fome" e resolvi fazer um intervalo nas fotografias para almoçar. Até esse instante sagrado do almoço, meu espanhol já havia melhorado e muito e o peso argentino voava da carteira como folhas ao vento. Tudo aqui é muito caro e, só para dar um exemplo, mas sem a intenção de espantar quem deseja conhecer a cidade, comprei água por $8. Ainda bem que nosso Real é valorizado aqui. Finalmente cheguei à Av. 9 de Julio (meu espanhol tá bombando!!!!) e fiquei espantado diante das dimensões da avenida, da imponência do obelisco e da modernidade dos anúncios que fazem desfilar letreiros e imagens que parecem cascatas tecnológicas. Andei toda a 9 de Julio atento aos cafés que ocupam as calçadas, a limpeza que impressiona, o andar elegante dos argentinos, os prédios imponentes, as praças bem cuidadas e o verde que ocupa muitos lugares. Foi encantado com tudo isso que cheguei a um dos mais famosos bairros de Buenos Aires, Recoleta. Muito do que já descrevi, repete-se nesse bairro nobre, elegante e singular de Buenos Aires. Acrescentaria apenas a política de construção dos prédios que os deixa na mesma altura e a quantidade de plantas que os moradores exibem em suas varandas. Impressionante e ecologicamente necessário. Por falar em ecologia, os argentinos são frequentes no uso de bicicletas que são distribuídas numa cidade que tem ciclovias e sinalização em várias áreas. Parabéns, Buenos Aires!!! Em Recoleta, visitei parques, o Centro Cultural, a Igreja Nuestra Señora del Pilar e o cemitério (nunca fiz tanta foto num lugar que detesto tanto). Ainda não satisfeito, rumei a Palermo, outro bairro bastante badalado de Buenos Aires. Como cheguei no fim da tarde, muitos dos lugares que intencionava conhecer, já haviam fechado. Mas, não me dando por vencido, planejei uma volta na quinta-feira pela manhã (último dia em Buenos Aires...snif...)para explorar melhor o bairro. Bem, já era hora de voltar para casa e peguei o metrô que, diga-se de passagem, é bem rápido. Nesse momento de pegar o metrô, descobri que recebi uma moeda de $2 e acho que levei uma bronca da funcionária (não posso dizer com precisão que se tratava de uma bronca porque meu espanhol ainda não permite). Durante essa volta ao hostel, ainda conheci o prédio da Corte Suprema, o Teatro Cólon e a Escuela Presidente Roca. Só pra finalizar, quero dizer que o povo argentino não é ríspido nem ranzinza. Talvez a maneira de falar, gesticular e, numa possibilidade mais remota, a sonoridade da língua, deixe essa impressão. Em todos o momentos que necessitei de uma informação, fui recebido com um caloroso Hola! ou Buenos dias! Faço uma exceção apenas no segurança do Jardim Botânico que gritou porque eu estava prestes a invadir o parque após o horário de funcionamento. rs Ainda ressoam suas palavras: "Você não leu a placa?" Em vez de tomar como uma deselegância, vi no gesto uma tentativa - não só do segurança, mas na pessoa dele, dos argentinos - em organizar a vida urbana. É isso. Vou dormir porque amanhã tenho Puerto Madero e San Telmo para deixar meus passos de mochileiro.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante

Sao 22h23 e em Buenos Aires é como se a noite estivesse apenas começando. O dia aqui é mais longo e, às 19h, o sol ainda brilhava e iluminava a cidade com seus raios que pareciam nao querer se despedir. Estou em Buenos Aires há pouco tempo, mas já me sinto um tanto familiar, embora o cansaço de uma viagem que durou mais de doze horas insista em negligenciar essa impressao. Saí de Recife às 5h10, fiz uma escala em Brasìlia às 8h e desembarquei em Sao Paulo às 11h30. Depois disso, fui submetido a uma espera no aeroporto de Guarulhos que se estendeu por mais de quatro horas. Foi nesse momento que percebi que minha resistência física e mental estavam sendo colocadas à prova. A fim de ludibriar a ansiedade e nao sentir o peso do tempo que se estendia indefinidamente, ouvi música, visitei lojas nas quais jamais compraria um alfinete sequer (que assalto nesses aeroportos!!!). Mas fiquei por ali, admirando o inacessível. Quando a aeronave da Aerolineas Argentinas aterrissou, um novo ar de esperança inflou-me o peito. Durante o terceiro voo do dia (nem o saco do mochileiro mais convicto suporta tanto sobe e desce), conheci um argentino radicado no Estado de Sao Paulo que me deu ótimas dicas sobre a cidade de Cordoba. Enfim, terra firme e novos desafios. Li no Guia do Viajante Independente pela América do Sul que havia um ônibus (autobus aqui) que custava $25 pesos e deixava o passageiro onde quisesse. Encontrei a empresa de ônibus, mas nao a oferta. Por falta de dinheiro trocado (os ônibus daqui, ou autobus, como queira, só aceitam moedas)e da informaçao dada no livro, tive que desembolsar $80 para pagar um táxi e chegar no Hostel Buenos Aires. É um lugar amigável, humano, jovial. Já ouvi muitos sotaques e línguas por aqui. Além disso, as pessoas parecem estar dispostas a se conhecerem e fazer novas amizades. Isso é uma tábua de salvaçao para quem está longe de casa, há milhas e milhas do seu Recife. Aproveitei para comer alguma coisa fora, porque achei caro o prato oferecido pelo Hostel. Encontrei um lugar simples, mas com boa comida a três quadras daqui. Esse pequeno percurso foi suficiente para sentir que a cidade é uma promessa. Fico por aqui. P.S.: Algumas palavras estao sem til (e meu texto todo sublinhado de vermelho), porque esse teclado castelhano só traz til sobre o Ñ (e sò!!).