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sábado, 29 de setembro de 2012

A FLIP revisitada

Depois de um longo tempo sem postar, volto com algumas palavras sobre a experiência vivenciada em Paraty durante a Festa Literária Internacional de Paraty - FLIP. O lado positivo de escrever sobre uma vivência tempos depois de tê-la experienciado é que podemos revisitá-la e estabelecer uma nova conexão com o vivido, de maneira que novos sentidos se revelam. Além disso, recompomos situações e pessoas e revivemos toda a carga emocional que acompanhou nossos passos ao longo da viagem. Parafraseando Machado de Assis nas primeiras páginas do livro Dom Casmurro, digo que, antes de passar aos fatos, faz-se necessário dar os motivos que impulsionaram essa viagem. São dois apenas e, de certo modo, não guardam nada de espetacular: o primeiro reside no desejo alimentado desde longa data em conhecer a FLIP. Desde meus tempos de universidade, ouvia falar nessa festa literária e fazia planos de um dia conhecer; o segundo motivo é um pouco mais profundo e tem a ver com minha relação afetiva com um livro que foi para as telas do cinema, chamado REPARAÇÃO, do escritor inglês Ian McEwan. No Brasil, o filme recebeu o nome de Desejo e Reparação. Desde o início do ano que vinha recebendo informativos sobre a Festa e quando vi que o autor participaria do evento não pensei muito, na verdade, pensei bem pouco, pois logo decidi pegar o avião ao Rio de Janeiro (e depois o ônibus para chegar em Paraty).
Em Paraty, fiquei hospedado em uma Pousada-Camping e, como queria fazer uma nova experiência de hospedagem - além de economizar - optei por ficar no Camping. Experiência maravilhosa. A impressão que o hóspede tem é similar àquela deixada por um lugar familiar ou sua própria casa. Acordar e se deparar com um ambiente natural, quase campal, numa temperatura amena e pessoas acolhedoras contribuiu bastante para que logo entrasse no clima da festa.
Paraty é uma cidade secular que conserva um centro histórico com ruas estreitas e pedras que reluzem em seu calçamento. É nesse centro que a FLIP acontece em suas várias tendas e casas. Os autores que constam da programação oficial podem ser vistos em duas tendas: a tenda dos autores e a do telão. Na tenda dos autores você paga um pouco mais caro pelo privilégio em ver o autor ao vivo e em todas as cores. Como isso não é possível na tenda do telão, o valor cobrado é menor. Comprei ingressos antecipados para a tenda dos autores e selecionei aqueles que me interessavam, seja por que os conhecia de ouvir dizer ou de obra lida, seja porque estavam ligados a culturas e países que vêm despertando meu interesse. Ao fim e ao cabo, participei de várias mesas e conheci autores diversos, bem como entrei em contato com autores cuja obra já havia conhecido por meio do cinema.
Empolgado e mergulhado na efervescência da festa literária, vi e ouvi Javier Cercas, Amin Maalouf, Adonis, Fernando Gabeira, Zuenir Ventura, Walcyr Carrasco, Luiz Felipe Pondé, Frei Betto,Luis Fernando Veríssimo,Ian McEwan, entre outros. Como falei no início, uma das minhas motivações a estar ali foi conhecer o autor de uma obra (Reparação) que me fez descobrir um outro valor da literatura: reconstruir a si mesmo e sua própria história por meio das palavras. Eu o conheci. Primeiro, separados geograficamente e mediados por um telão, depois, de braços e ombros entrelaçados em uma das ruas mais movimentadas do centro histórico. Naquele instante, talvez o instante-já de Clarice Lispector em Água Viva, eu me senti plenamente feliz.
Mas a FLIP não permitiu apenas encontros com autores e livros. Reunindo gente de todos as regiões do país e diferentes países, a Festa abre para outras experiências que envolvem fotografia, cinema, artes cênicas, natureza exuberante, amizades. Além dos livros e lembrancinhas, voltei com uma reserva de amigos que conservo até então.