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terça-feira, 14 de maio de 2013

Crônicas de um mochileiro em Copacabana (Bolívia)

Deixei  Puno no Peru e segui em busca de novas experiências do outro lado da fronteira, onde se encontra a Bolívia. Enquanto caminhava sob o peso das bagagens e o sol que resolveu aparecer nesse dia, as vozes indígenas que me saudaram em aymara e quéchua na Isla de los Uros perseguiam meus ouvidos e convidavam a desbravar o próximo país. Na alfândega, descansei as costas e aguardei que a polícia autorizasse minha entrada. Tudo transcorreu na tranquilidade que esperava e segui ansioso por chegar em Copacabana, meu primeiro destino.
Copacabana é uma cidade pequena que se encontra no entorno do majestoso lago Titicaca. A cidade serve de apoio a turistas que ingressam na Bolívia pelo Peru e desejam ver o Titicaca do lado boliviano. Próximo dali, cercado pelas águas do Titicaca, temos as Ilhas do Sol e da Lua que agregam beleza à região e acenam exigindo do turista uma visita.
Exaurido pela longa e desgastante viagem que levou seis horas e rendeu uma aventura da qual ri bastante depois, apressei o passo a fim de encontrar um hostel que oferecesse o mínimo de conforto e um preço acessível. Hospedei-me  num prédio histórico, cujos corredores e apartamentos denunciavam o status do hostel no passado, provavelmente o melhor hotel da cidade. Do quarto, era possível entreter o olhar com as águas tranquilas do Titicaca e as embarcações que não paravam de singrar aquelas águas.
Após um banho que parecia uma fonte no deserto, acumulei peças de roupa para aplacar o frio que chegava a 5º. Agora protegido contra as rajadas de vento e frio cortante, caminhei mantendo um olhar curioso sobre a rua que dá acesso ao lago. Ao longo da rua, restaurantes, lanchonetes, pubs e mercadinhos disputam a atenção e os pesos dos turistas. A orla do Titicaca não enche os olhos, mas a imensidade do lago deixa-nos submersos nos encantos daquelas águas. Retomei a consciência quando lembrei que precisava garantir a compra do passeio à Ilha do Sol e foi o que fiz em seguida.
Acordei. O corpo se enroscava nas mantas grossas e lençóis sobrepostos e insistia em não deixar aquele lugar que o fizera descansar e aquecer. Mas o horário, a passagem paga e o desejo derrotaram esse corpo renitente e pus-me a correr entre chuva, vento e frio quando cheguei às embarcações. Estava atrasado e meu barco já havia saído. Fui imediatamente acomodado em outro e segui em direção à ilha. Aos poucos, a cidade foi deixada para trás e a cortina de neblina abria-se e colocava em cena uma outra paisagem: a Ilha do Sol.

Terra à vista. Dessa vez, não fui recepcionado com cantos, mas as belezas naturais de uma ilha - que parece conservar uma virgindade perdida - deram as boas-vindas. No lugar do desembarque, portão de acesso à ilha, um comércio inexpressivo aguarda a leva de consumidores que pechicham mesmo sem disporem de muitas opções. Vale lembrar que o turismo é intenso nesses roteiros e o turista é sempre visto como possibilidade de um lucro que é garantido de maneira arbitrária.
Câmera em  mãos, dei início ao registro fotográfico que se estendeu durante todo o dia. Nos lugares altos, sentava numa pedra, descansava um pouco e seguia registrando instantes de uma modelo que posa com graciosidade e elegância: a natureza.
Enquanto abria os tornozelos nas ladeiras por onde desfilavam indígenas, a fauna vigorosa, a flora exuberante e os turista vorazes, deixei que meu olhar recaísse sobre aquele paraíso cheio de anjos decaídos em busca de sintonia com o Todo e paz interior.
Antes de voltar à embarcação, conheci um viajante de Garanhuns, cidade dos meus pais, que estava há dias percorrendo a América do Sul sobre duas rodas. Ouvi atento suas histórias e pensei que minha loucura era sã diante dos relatos do meu conterrâneo.
De volta ao hostel, voltei a mirar o Titicaca através da larga janela e mergulhei nos pensamentos que eram turbilhão na cabeça de um viajante disposto a reencontrar na diversidade humana o elo que nos faz pertencer à mesma família chamada Humanidade. Absorto em pensamentos dessa natureza, esqueci que precisava comprar a passagem que me permitiria chegar ao próximo destino: La Paz. No dia seguinte, procurei uma agência e rumei estrada afora.