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terça-feira, 14 de outubro de 2014

A Experiência do Deserto (Deserto do Atacama - Chile)

Era no tempo da Copa. O país encontrava-se ainda sob os ventos que, meses antes, sacudiram cidades e deixaram a sociedade envolta num misto de revolta e pânico. O recesso escolar foi antecipado para que a Copa no Brasil tivesse uma adesão massiva de todos os seguimentos sociais. Resolvi viajar. No roteiro de Caminhos da América do Sul - feito de cabeça, diga-se de passagem - não havia lugar para o Deserto do Atacama, então, criei um pretexto para ir ao Deserto: fugir da Copa e dos possíveis tumultos que presumidamente poderiam acompanhá-la.
Ainda trago resquícios do frio que fazia em Santiago quando cheguei à rodoviária. Saindo do aeroporto vi as luzes de Natal - que nada! Isso só acontece em Faroeste Caboclo -, não, vi Cíntia: amiga de são Paulo que estava indo a Chiloé e tomou o mesmo ônibus que "yo". Reconheci a mescla de espanhol com sotaque paulistano e atirei na mosca, digo, na Cintia, que atravessou minha pergunta: "Você é Luciano?" Ela perguntou primeiro e a diferença foi de milésimos de segundos. Enfim, quase não cabia em mim de tanta felicidade. Mas essa foi apenas uma das tantas que me aguardavam no Deserto.
Quando o mochileiro, ou qualquer outro ser estranho a espécie, chega à pequena rodoviário do "pueblo" do Atacama é abordado por funcionários de hotéis, pousadas etc. Embarquei de cara na primeira proposta (esqueci de dizer: sou fácil...abafando o caso...) e me hospedei num "hostel" que tinha uma área de "camping". Primeira noite: frio de lascar (melhor, de lascar é o que faz em Garanhuns: cidade de "mes pères"... no deserto, àquela hora da noite, o frio mal permitia um passo após o outro). Após montar a barraca, a segunda providência foi comprar vinho e bater perna pelo povoado. Agora eu precisava abrir o vinho e, sob esse pretexto, acabei conhecendo essa galeraaaaaa que me jogou na noite "power" do povoado. Distraídos, tropeçamos numa pedra vulcânica, e caímos  nessa festinha tradicional regada à música folclórica e meu vinho que não durou muito. Combinei com o francesinho um pedal no dia seguinte, mas houve um desencontro e repeti incansavelmente para mim mesmo: " a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida." Isso me confortou.
"Eu era tão feliz e não sabia, amor..." Perseguição Marisa Monte...deixa ketu e vamos para o segundo dia.
No dia seguinte, após uma experiência de 5º na madruga, saí para comprar os pacotes dos passeios e fotografar o "pueblo". As casas e estabelecimentos comerciais mantém basicamente as mesmas características de quando o Deserto nem era tão visitado como hoje. Essa é uma decisão política dos índios atacamenhos que insistem em não perder aspectos fundamentais da sua cultura. Há um visível equilíbrio entre tradição e modernidade. Comprei os pacotes e tinha um passeio às lagoas à tarde. Você foi? Nem eu. Devido a um pequeno problema de fuso horário, perdi o passeio. Mas minha vingança sará malígrina!! Me aguardem!
Aquela velha saída à noite...Não pode faltar. "Pela estrada afora..." eu vou de mansinho, olhos atentos a qualquer movimento humano capaz de abrir minha "petite" garrafa de vinho. Esbarrei com a funcionária da agência de viagens onde comprei os pacotes que me deu uma bronca porque não compareci. Expliquei e, como uma mãe, entendeu minha justificativa e me convidou a sentar com o grupo com o qual faria o passeio. Eram todos chilenos. Bonitos, animados e famintos. Em poucos minutos devoramos pizzas e outras itens do cardápio. Enfim, o primeiro passeio: Laguna Cejar e Tembinquinche e Salar de Atacama. Saímos quando o sol ainda se espreguiçava. De água azul-vibrante e a calmaria de uma noite sem nuvem, as lagoas oferecerem ao mochileiro o descanso mental necessário a tudo que estar por vir. À tarde, outro passeio: Vale da Lua e Vale da Morte. Por que se chama Vale da Lua? Não faz ideia? Porque o solo dessa região é semelhante ao solo lunar. Simples como a Oi. Mas a beleza da formação geográfica do lugar é complexa e não apreensível por um olhar com hora marcada para chegar e sair. O Vale da Morte não é diferente. As formações "rochosas" oriundas de erupções vulcânicas e outros fenômenos metem medo com seu crepitar e a sensação de que alguma daquelas "pedras" - que se equilibram com dificuldade umas sobre as outras - vão cair na sua cabeça a qualquer momento. Durante o passeio, conhecemos um "pueblo" onde acontecia uma festa religiosa que nada tinha de lamentações e imagens sangrando e olhar triste, antes, dança, alegria e música, muita música. Quando pensávamos que já tínhamos visto tudo que a vida tinha para nos oferecer de belo naquele dia, o motorista para no alto de uma "falésia" e, de lá, tínhamos uma visão panorâmica dos vales que ao cair da tarde recebiam a visita de um pôr do sol cuja beleza é indizível.

abre parêntese essa foto deveria estar no lugar da anterior fecha parêntese.