Entrevista: Matthieu Ricard,
monge budista tibetano, autor e porta voz de S.S. o Dalai Lama,
juntou-se ao manifesto para mudar o status jurídico dos animais. Ele
explica ao jornal francês, Metronews, as razões de seu engajamento nesta
causa. Tradução do francês para o português de Gleisy Coimbra.
Matthieu Ricard faz parte das numerosas assinaturas do manifesto de um novo status jurídico dos animais na França.
Porque ter assinado este manifesto?
Porque é uma realidade: os animais são seres sencientes, que tem um
direito natural de não sofrer ou pelo menos que não os levemos ao
sofrimento. É preciso ser cego para não ver que os animais têm as
qualidades idênticas aos homens: empatia, bondade, cuidado com os outros
seres… Assim, não podemos os tratar como controladores ou objetos.
O que este reconhecimento poderá implicar?
Reconhecer que são seres sencientes implica na forma maneira a qual
nós os tratamos. A maldade já é punida por lei. Mas quando se trata de
exploração industrial, a lei é muito ampla. Por exemplo, 20 % dos
animais enviados à matadouros ainda estão conscientes no momento em que
eles são abatidos. Isto é inadmissível. Sendo consideradas como objetos,
é uma desculpa fácil de usar a nosso critério. Os humanos matam 1
milhão de animais terrestres e cinco vezes mais de animais marinhos a
cada ano. É preciso ver a verdade. Não pode-se ter uma sociedade mais
ética deixando de fora uma seção inteira da vida, que são animais.
É preciso, então, acomodar todos os animais no mesmo barco?
Claro, eles são seres sencientes. É preciso reconhecer todos eles
como tais. Pessoalmente, eu não faço diferença entre uma vaca e um
cachorro. Os porcos são, de certa maneira, mais inteligentes que os
chimpanzés, por exemplo. E se os peixes não têm expressão facial, eles
têm um mesmo sistema nervoso que faz com que eles sintam dor. Não se
pode negar.
Como a religião budista vê os animais?
Como um ser senciente que não têm a mesma sofisticação do homem –
chamado de inteligência – mas como ele tenta evitar o sofrimento e
atingir o bem-estar. Esta aspiração deve ser respeitada. Neste sentido, a
não violência frente aos os animais é uma extensão lógica do que
defendemos para os seres humanos.
Se não falas, vou encher o meu coração com o teu silêncio e agüentá-lo. Ficarei quieto, esperando, como a noite em sua vigília estrelada com a cabeça pacientemente inclinada. A manhã certamente virá; a escuridão se dissipará, e a tua voz se derramará em torrentes douradas por todo o céu. Então as tuas palavras voarão em canções de cada ninho dos meus pássaros, e as tuas melodias brotarão em flores por todos os recantos da minha floresta. (Rabindranath Tagore)
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