Se não falas, vou encher o meu coração com o teu silêncio e agüentá-lo. Ficarei quieto, esperando, como a noite em sua vigília estrelada com a cabeça pacientemente inclinada. A manhã certamente virá; a escuridão se dissipará, e a tua voz se derramará em torrentes douradas por todo o céu. Então as tuas palavras voarão em canções de cada ninho dos meus pássaros, e as tuas melodias brotarão em flores por todos os recantos da minha floresta. (Rabindranath Tagore)
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quarta-feira, 15 de julho de 2015
Sob o Céu de Piranhas
Quando cheguei, caía uma chuva fininha e o vento frio do alvorecer tocava calidamente a pele. O cheiro de terra molhada e de vegetação renascida enchia os pulmões deixando-nos mais leves. Pisava a terra ensopada como quem pisa as penas espalhadas numa piscina. Cheguei a pensar que flutuava quando não passava da experiência, cheia de simplicidade, de pisar o chão de barro.
Saí do alojamento e fui revisitado por aquele ar vigoroso de uma camurça sem nome. Estava em Piranhas. Passados alguns minutos, encontrava-me no Instituto. Cheguei cedo e não havia professores nem gestores. Aos poucos, eles foram chegando e, de repente, estávamos amontoados em torno de uma mesa de frios, frutas e bolos. Demos as boas-vindas aos que já eram e aos que serão de hoje em diante. Além disso, sentimos os espaços deixados por aqueles que amamos e que já não compartilham do mesmo chão. O sentimento de amizade e as boas memórias da convivência preenchem os espaços e voltamos a nos harmonizar com o todo e com o tempo presente feito de cumprimentos que nos chegam como um ritual padronizado. Na sequência, avaliação do comportamento dos alunos que acabam sendo a avaliação das nossas próprias dores, insatisfações e descontentamentos. A chuva volta a cair no fim da tarde e, aquele frio que nos desamparou durante o dia, volta a nos abraçar no cair da noite. Aguardo, franzo a testa, olho para os lados e volto ao alojamento sob o firmamento estrelado que me cobre sem chuva, sem nuvens, mas com a vida que cintila sob o céu de Piranhas.
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