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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Crônicas de um mochileiro em Arequipa

A cidade de Arequipa no Peru é um destino que não pode ficar fora do roteiro de qualquer mochileiro que tenha interesse em arquitetura colonial, ruas que transpiram histórias passadas e museus que, ao contar a saga dos incas, dos honoráveis arequipenhos e religiosos, contam o progresso da humanidade. Cheguei em Arequipa no dia dez de janeiro e, no dia seguinte, quando começo a desbravar suas ruas com cheiro de memória, deparo com um Centro Cultura Peruano Brasileiro que fica a alguns metros do hostal onde estava hospedado. De repente, um misto de curiosidade e espanto invadiu e arrastou meus pés até o referido instituto de ensino de português para estrangeiros. Já dentro da sua secretaria, conheço uma das professoras do instituto e podemos falar sobre a demanda de estrangeiros que buscam aprender português, número de alunos por sala, material didático, entre outras coisas. Dessa conversa, resultou que no fim da tarde ganhei um livro didático de ensino de português como segunda língua. A experiência não poderia ser melhor para um professor de português que difunde o valor intríseco e extrínseco que sua língua carrega.
 

Continuo percorrendo as ruas largas de Arequipa que apontam para a grandiosidade de suas contruções e chego à praça das armas onde a catedral se impõe como uma gigante a esmagar os meros mortais que ousam caminhar sob suas sombras ou sentar nos degraus que dão acesso a um majestoso templo que abriga não só a piedade cristã, mas objetos de arte dos mais variados valores históricos e artísticos. Foi nessa catedral que dediquei alguns minutos a fotografar e admirar um órgão que se insinuava arrojado e delicado e parecia entoar uma peça, mesmo sem alguém a dedilhar suas teclas. Nessa praça, que chama a atenção não só pela catedral que majestosamente emana poder sobre seus súditos e lhes inspira alguma crença, há também o espaço reservado aos arequipenhos que conversam, contam anedotas, falam de suas vidas, despedem-se de seus amores, realizam negócios, vendem suas fotografias e murmuram suas narrativas existenciais.
 
 
Há muitas opções turísticas em Arequipa, mas há uma que não pode ficar fora do roteiro de um mochileiro que se interessa por museus: o Mosteiro de Santa Catarina de Sena. O convento, que foi fundando em 1579, encontra-se dividido em duas alas que são ocupadas pelas irmãs dominicanas e o museu. Como se trata de um convento onde vivem freiras enclausuradas, só visitamos a área reservada ao museu que, diga-se de passagem, ocupa um espaço considerável. Tão considerável que passei duas horas e meia para conhecer e fotografar o lugar. A história do convento e das freiras que ali viveram sua vida de clausura e fé encontra-se intrisecamente ligada à política e formação social e humana de Arequipa, de maneira que mergulhar nos labirintos feitos de celas, cozinhas, escadas e salas de estar que compõem esse cenário religioso é, a um tempo, passear pelos séculos que testemunharam a fundação e desenvolvimento de Arequipa.
 

Andei, apurei o olhar, observei e também provei muitas "tajas" quando passava pelas ruas de Arequipa. "Tajas" é um chocolate parecido com o que no Brasil chamamos de trufa. Ao voltar de um desses passeios, esbarrei num centro cultural dedicado ao arequipenho que deixou o Peru para ganhar o mundo físico e o mundo pessoal, íntimo, transpessoal, que constitui cada um de seus leitores: Mario Vargas Llosa. Ali, há uma pequena exposição de diferentes títulos publicados nas mais diferentes línguas, uma biblioteca onde jovens liam em absoluto silêncio, uma sala reservada à exposição fotográfica e outras dependências onde cursos são ministrados. Enfim, um espaço digno do nome Vargas Llosa.


No último dia em Arequipa, saudade era um sentimento antecipado pela estreita relação afetiva que estabeleci com a cidade que é observada por um velho vulcão que destruiu e ofereceu as pedras que ajudaram a reconstruir a cidade. Construída com pedras vulcânicas, Arequipa exibe, sem vergonha ou falsa modéstia, a brancura de seus muros que chegam a causar vertigem nos olhos ainda não acostumados a uma beleza sem cores.

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