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quinta-feira, 9 de julho de 2015

São Paulo: voltar é preciso


Há sempre bons motivos para voltar a São Paulo. Eles podem ser simples ou complexos, pequenos ou grandes, importantes ou banais. A única coisa certa é que há sempre um, dois, três ou milhares de motivos para fazer a experiência-São Paulo.
Cheguei no fim da tarde de uma sexta-feira. O frio ameaçava, mas não passou de uma agradável e moderada temperatura. Quando saí da estação de metrô, dei de cara com um bairro agitado, vívido. Estava na Liberdade. Habitado por japoneses e outras etnias, a Liberdade é um celeiro de encontros culturais e étnico-raciais.
Exausto da viagem, sentei no primeiro restaurante que vi ao sair da estação. Comi sushi. Foi possível saciar a fome, mas não tive prazer algum naquele sushi que nem de longe parecia ter sido feito pelas mãos dos seus criadores.
Na primeira noite, pensei apenas em descansar e planejar o roteiro do dia seguinte. Além de consultar o mapa, preparei a câmera que registraria um outro olhar sobre a cidade. Já havia passado cinco anos desde a última visita.
Na manhã do dia seguinte, saí de casa como se fosse familiar à cidade, embora tivesse a certeza de que novos caminhos e experiências já se anunciavam. Andei pelo bairro da Liberdade tomado por uma tranquilidade genuína, de maneira que me permiti entrar e sair de ruas reiteradas vezes, perder o rumo, ficar desnorteado. Nesse passo embriagado de atenção e curiosidade, acompanhei o cotidiano dos moradores, seus costumes, comércio, burburinho, pagodes, silêncios.
Tudo isso me preparou para uma nova visita ao MASP na parte da tarde. Revisitar o acervo do museu é a única vivência do tipo "mais do mesmo" que não me deixa entediado. Ali nos encontramos com Gauguin, Cézanne, Rembrandt, Van Gogh, Rodin e muitos, muitos outros. Percorri as salas sem pressa, desfilei o olhar docemente sobre as pinturas, pensei nos processos criativos daqueles homens e mulheres de arte, descansei nas cores de Renoir.
Após experiências abstratas que representam objetos visíveis, chegou a hora de experienciar o tocável, amável e que nunca cai no esquecimento: os amigos. A bem da verdade, duas amigas que conheci quando estive pela primeira vez em Buenos Aires. Elas me sugeriram dança de salão e eu devolvi com jazz e blues no bairro da Madalena. Cederam e acabamos nos fundos de um estacionamento onde circulavam pessoas interessantes e aos ouvidos chegavam os sons tirados de um saxofone cheio de vida. A apresentação durou o tempo suficiente para que fôssemos felizes; felizes por sermos amigos, amigos sinceros.
No domingo, minha opção foi a Pinacoteca. Esse é outro espaço que nos faz pairar  no ar. Dessa vez, foi possível conhecer o anexo que trata-se de outro prédio próximo à Pinacoteca e menor que essa. Na entrada, uma exposição fotográfica sobre a Ditadura Militar brasileira e, em uma das salas, exposição de arte brasileira. Portinari, Di Cavalcante, Tarsila do Amaral foram meus recepcionistas e me fizeram entender melhor o que é fazer uma releitura do Brasil por meio da representação pictórica.
Por fim, peguei um cineminha no prédio da Gazeta no espaço Reserva. Adivinhe quem encontrei lá? Liv Ullman exibindo seu longa metragem que, embora tenha recebido heranças do memorável Ingmar Bergman, apresenta o traço cinematográfico peculiar da menina dos olhos que se celebrizou nos filmes do diretor sueco.
É hora de voltar. Na mala: roupas, agenda, e tudo aquilo que foi possível comprar a preço de banana, como livros, DVDs, cartazes, lembrancinhas e aquilo que o dinheiro não compra, a saudade de voltar.

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