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terça-feira, 13 de maio de 2008

A COR PÚRPURA


A COR PÚRPURA

Não é de agora que conheço o filme A cor púrpura. Já tinha lido alguma coisa na internet e, desde que obtive a primeira informação, me pus a procurar, embora não tenha tido êxito na busca. Só recentemente tive a grata oportunidade de assisti-lo e o fiz como um menino que ganha uma roupa nova e logo quer vestir ou uma caixa de bombons e a devora com ansiedade. Foi com uma disposição semelhante que digeri cada cena desse filme.
Custa-me tanto encontrar as palavras exatas, precisas e que dêem toda a dimensão da grandiosidade dessa obra que, por vezes, hesito, receio, deleto, reescrevo, temeroso de que as palavras escolhidas não alcancem suas extensões que são incomensuráveis. Mas, começo a lembrar de Celie e sua trajetória marcada por recomeços sutis e, prontamente, me ponho a escrever com o mesmo destemor que a cerca quando das cenas finais.
A obra, do diretor Steven Spielberg, narra a história de Celie (Whoopi Goldberg) e Nettie (Akosua Busia), duas irmãs que conhecem desde cedo os horrores de uma criação feita de medo e dor. O pai mantém relações sexuais com Celie com quem tem três filhos. Desses três, mata um e doa o casal Olívia (Lelo Masamba) e Adam (Peto Kisanka) a membros da igreja que participa. Celie não conhece os filhos nem os vê crescer.
Certo dia, aparece na fazenda, Alberto (Danny Glover), que manifesta interesse em casar com Nettie. O pai não permite que Nettie, por quem tinha desejo, siga com Alberto e entrega Celie que o acompanha e contrai matrimônio. Daí em diante, Celie é submetida a todo tipo de humilhação pelo marido que a mantém como uma escrava dele e dos filhos.
Depois de um tempo, Nettie foge da casa do pai, porque não agüenta sua insistente perseguição e procura Celie, com quem passa a morar. Após uma tentativa frustrada de Alberto em estuprar Nettie, que o recusa veementemente, aquele a expulsa de suas terras e a menina sai a perambular pelo mundo. Antes de serem violentamente separadas, Nettie promete escrever e diz que só não o fará se morrer. Daí em diante, a vida de Celie se transforma numa eterna espera pelas cartas de Nettie que não vêem.
Com a chegada de Shug (Maragaret Avery), a vida de Celie ganha rumo totalmente diferente daquele desenvolvido até então. Finalmente, alguém a vê e a ama como nunca foi amada. Esse reconhecimento do seu corpo, da sua existência e atributos faz Celie reunir forças para romper definitivamente com um passado de opressão e sofrimento.
No fim da trama, Celie e Shug descobrem as cartas que Nettie enviava e Alberto escondia. Nessas cartas, Nettie dá notícias de si e dos filhos de Celie que encontram-se na África. Após conseguirem o visto de emigração do consulado, os filhos de Celie, finalmente, puderam conhecer aquela de quem foram separados no nascimento. O reencontro com Nettie simboliza o reencontro com uma nova vida feita de respeito e dignidade.
Esse resumo dá uma idéia, em linhas gerais, do filme, mas seu conteúdo e as ações que o compõem vão além do que aqui está posto. Há histórias paralelas à história de Celie e que dão ao filme uma unidade dramática porque todas estão perpassadas pelo mesmo fio da intolerância e superação.
O filme é tão rico em temas para reflexão que fica difícil selecionar um para comentar. Não obstante a dificuldade em pinçar um tema que se sobressai aos demais, queria pontuar a passagem de uma existência inicialmente marcada pela mudez social, pela submissão resignada ao macho viril e por uma solidão que a acompanha desde que teve seus filhos arracandos dos seus braços e foi interditada na comunicação com a irmã por quem tinha laços profundos de amizade para uma existência que tem a coragem, num momento singular da vida, de olhar para seu algoz e gritar: "Eu sou negra, sou pobre e posso até ser feia, mas, Deus, eu estou aqui. Eu estou viva." Essa é toda liberdade.