Total de visualizações de página

domingo, 10 de março de 2013

Sede de Viver de Vincente Minnelle


Sede de viver de Vincente Minnelle foi filmado em 1956 e é considerado uma das melhores cinebiografias sobre Van Gogh. O ator Kirk Douglas esbanja em interpretação que faz com que vibremos na mesma sintonia que movimentou os dias do pintor holandês. A música dá o tom exato que a vida conturbada de Van Gogh exprimiu. A cena na qual o pintor corta a orelha é de um brilhantismo ímpar. Por fim, uma comparação que pode até ser burra, mas que não posso deixar de fazê-la. Em Vincent Van Gogh: Vida e Obra, que foi filmado por Robert Altman, o pintor impressionista aparece muito mais selvagem e o realismo da sua angústia existencial é muito mais cru e nu. É isso.

domingo, 3 de março de 2013

Crônicas de um mochileiro em Cusco/Machu Pichu

As reminiscências são sempre mais vivas e intensas que a realidade e o vivido. Rememorar é buscar detalhes, selecionar experiências, refazer caminhos materiais e afetivos. Em suma, é recorrer às lembranças que descansam em nosso olhar. Assim, retomo essas lembranças e quebro a sequência dos fatos e do roteiro, uma vez que Cusco não foi a última cidade a ser visitada, mas Puno, sobre a qual já escrevi.
Cheguei em Cusco aproximadamente no dia 13 de janeiro e, de pronto, não me encantei com a Cidade Imperial dos Incas. Mas essa má impressão durou pouco. Após desambarcar na rodoviária, dirigi-me à praça principal onde um misto de deslumbre e curiosidade se apoderou de mim. Aos poucos, enquanto passava o olhar pelas belezas arquitetônicas daquele centro histórico, comecei a entender porque Cusco atrai tantos turistas e também compreendi o fato de ser uma parada obrigatória para o visitante que pretende esticar seu passeio até à cidade sagrada dos Incas: Machu Pichu. Nela (em Cusco), percorre a brisa da história que envolve suas ruas, esquinas e construções que datam do séc. XVI quando lá chegaram os dominadores espanhóis. Mas o nascimento dessa cidade que já serviu de base administrativa, religiosa e cultural ao Império Inca data do século XII. Até a chegada dos espanhóis, Cusco funcionava como a sede de um dos maiores impérios que a América Latina abrigou e, onde hoje vislumbram-se templos católicos, era possível ver os lugares sagrados do povo inca. No afã da expansão europeia, templos e índios foram pilhados e assassinados sem que pudessem provar sua importância no cenário cultural da humanidade.
Como já foi dito, Cusco é parada obrigatória para quem deseja chegar a Machu Pichu. Na cidade Imperial, fiquei hospedado no Flying Dog Hostal que já era conhecido uma vez que me hospedei em hostal da mesma rede na cidade de Arequipa. No mesmo dia, conversei com o representante de uma agência que mantém um convênio com o hostal e fechei o passeio a Machu Pichu com essa agência que cobrou 585,00 soles (tudo incluso). Isso equivale aproximadamente a R$ 585,00, uma vez que o câmbio entre as moedas é praticamente 1 para 1. Em Cusco, há muitas agências que oferecem passeios, mas nem todas são confiáveis. É muito importante obter o máximo de informação sobre a agência e junto à agência para que tenha certeza que não está fazendo um mau negócio. Os peruanos são agradáveis, receptivos e pacíficos, mas em matéria de negócios é bom ficar atento porque pode se deparar com um oportunista.
O percurso até Machu Pichu é razoavelmente longo, pois o trem não sai de Cusco, mas de uma cidade que fica a aproximadamente 1h30 da cidade imperial. O caminho é repleto de curvas e, ao logo do trajeto, é possível ver de relance a entrada de sítios arqueológicos que estão localizados nas proximidades da cidade histórica dos incas. Até à estação fomos de van e depois seguimos de trem. A viagem dura aproximadamente 2h e a paisagem é de tirar o fôlego. Na classe que viajei, não há muitos serviços e o conforto não chega aos excessos da primeira classe que é muito mais cara. Entretanto, a falta de serviços excelentes foram substituídos pelo bom papo que se desenvolveu ao longo da viagem com dois passageiros que se dispuseram a me dar uma aula sobre Machu Pichu.

Enfim, Águas Calientes ou Machu Pichu Pueblo. A bem da verdade, trata-se de um pequeno povoado onde se concentra um número considerável de hoteis, pousadas, hostals e casas de comércio bem como um centro voltado para a venda de artesanato produzido por artesãos locais e provenientes de Cusco. É o lugar ideal para quem deseja descansar antes de rumar à Cidade Perdida dos Incas. Os dois rios que passam pelo povoado e as montanhas que os cercam se encarregam de criar o clima perfeito de sossego e paz. Dormi em Águas Calientes e, no dia seguinte, por volta das 5h, tomei a van que me levaria ao desejado templo sagrado dos Incas.
Após 20 minutos de belezas naturais, chegamos a um dos lugares mais fascinantes da nossa Casa Comum, a Terra. O movimento é intenso na entrada do sítio arqueológico, uma vez que os turistas chegam em horários próximos. Identificado o guia turístico, iniciamos a jornada pela religiosidade, cultura e cosmovisão inca. Inquieta e encanta a organização de uma sociedade indígena que construiu uma cidade num lugar tão inacessível e pouco propício à vida humana porque queria se proteger dos invasores que pilhavam sua gente e terra. Protegida pela Montanha Jovem e Montanha Velha, Machu Pichu foi o centro urbano de uma civilização que cultivou a terra, cultuou os deuses e produziu cultura sem agredir a Pacha Mama, ou Mãe Terra. A cruz andina representa essa comunhão desejada por esse povo que estabelecia com o seu entorno uma profunda relação de respeito e gratidão. E essa relação é expressa na cruz andina por meio do simbolismo dos três mundos: superior, o dos vivos e o inframundo que se encontram representados nas três pontas da cruz.
A cidade sagrada foi descoberta por camponeses que exploravam a região, mas só do arqueólogo Hiran Binghan recebeu a devida investigação científica. Binghan registrou suas descobertas no livro La Ciudad Perdida de los Incas: Machu Pichu.
Liberados pelo guia, resolvi voltar a fazer o mesmo percurso e explorar outros para perceber nuances e sentir melhor a cidade, pois isso não é possível quando temos que acompanhar um guia que nos conduz a passos rápidos. Assim, voltei aos templos, fotografei símbolos sagrados, subi a montanha de Machu Pichu, passei entre as paredes de pedras que constroem os aposentos dos sacerdotes e importantes figuras da escala social inca, vi a neblina ir embora e o deus Sol iluminar a cidade que ecoa os sonhos, a coragem e a sabedoria de um povo.
A volta a Cusco foi materialmente tranquila, mas minha mente não estava tão tranquila quanto a viagem e ainda tentava processar todas aquelas informações captadas pelo olhar e sorvidas pelos demais sentidos. Agora no Brasil, passado pouco mais de um mês dessa experiência, nutro a esperança de um dia voltar a Águas Calientes e, certamente, a Machu Pichu, a fim de escrever os primeiros capítulos das percepções impressas pelos Caminhos da América do Sul. É isso.