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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Viagem e abandono

Há um sentido, atribuído ao longo da experiência humana, ao ato de viajar que não reside no encontro de mundos culturais, mas no abandono de lugares físicos ou simbólicos. Viajar é também deixar para trás um mundo conhecido, confortável e onde transitamos à vontade. É um momento em que nos desligamos do já conhecido e mergulhamos no desconhecido. A ruptura com esse lugar amigável traz a sensação de instabilidade e ausência de raízes e, por vezes, nos soa como perda da identidade, da individualidade e das origens. A verdade é que, quando viajamos, acenamos saudosamente a um mundo de crenças e convicções que aos poucos vai se desfazendo à medida que outro mundo se constrói. É assim que devemos entender os movimentos que marcam uma viagem. Ao decidirmos sair, imediatamente nos dispomos a lançar novas pontes entre nós e o desconhecido que recria nossa visão de mundo e, consequentemente, nossa maneira de estar no mundo. É intrigante, mas dizer isso significa afirmar que não estamos prontos, mas em contínua e perpétua construção e a viagem é não somente um deslocar-se em direção ao outro (seja lá o que/quem for esse outro), mas um deixar para trás um sem número de coisas que haviam se fossilizado em nós. É assim que entendo o processo de criação no qual todos estamos inseridos. Todos os dias somos recriados e isso não se dá apenas por aquilo de novo que em nós se produz ou abraçamos, mas também pelas coisas que deixamos atrás de nós. Citei, no post anterior, alguns livros e filmes que se organizam em torno da viagem: entendida, simultaneamente, como o ato de deslocar-se fisicamente de um lugar a outro e ação simbólica revestida de sentido humano e afetivo. Neste post, a memória abre diante de mim dois livros de Hermann Hesse: Demian e Narciso e Goldmund. Nessas duas obras, o simbolismo da partida é muito forte e percorre toda a narrativa. Em Demian, Sinclair é convidado pela vida a deixar o aconchego e segurança do lar paterno, a fim de empreender uma jornada por lugares que ignorava. O que chama a atenção nessa jornada empreendida por Sinclair é o fato de que, ao mesmo tempo que deixa para trás uma vida já conhecida e segura e conhece aquela que recusara até então, retorna, reiteradas vezes, ao mundo que abandonara e encontra nesse mundo uma espécie de conforto e salvação. Recusar um mundo para ganhar outro. Ganhar o novo mundo sem perder as referências do velho mundo. Construir-se sem perder as referências que nos impulsionaram a caminhar. Eu penso que isso resume bem o aspecto pendular da vida de Sinclair. É necessário ganhar um mundo, mas, para ganhá-lo, é necessário perder sem deixar de reconhecer naquele estado de coisas que abandonamos o gérmen de um impulso que nos conduziu à vida. Se Sinclair teve que deixar o lar paterno, Goldmund recusou a paz do mosteiro e a amizade singular de Narciso para sugar a essência da sua existência tão particular e tão universal. Em ambos, a existência encontra-se marcada pelo signo da partida. Partir é viver, pois o autoconhecimento é fruto de vivências que se acumulam nos arquivos da nossa vida. Partir é lançar-se sobre o porvir, o sol que nasce, uma manhã orvalhada, mas é também manter um braço sobre o fim de tarde. A viagem de cada um de nós, sempre única e singular, é feita de olhos postos no futuro e pulos dados do trampolim de velhos mundos dos quais nos despedimos quando pomos o pé na estrada.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Uma viagem, uma porta, inúmeras possibilidades

Viajar é sempre um ato carregado de simbolismos. Há na literatura e no cinema um número amplo de enredos que envolvem ou estão assentados no tema da viagem. Em A volta ao mundo em 80 dias de Júlio Verne, a viagem é a protagonista da narrativa que se desenvolve sob a tônica da partida. Outro exemplo que nos vem da literatura é o livro On the road do americano Jack Kerouac. Esse livro nos põe em contato com a libertação que o protagonista Sal vivencia à medida que avança em sua viagem. Do cinema, temos o filme Chegadas e partidas do Lasse Hallstrom que traz para a tela o processo doloroso de autoconhecimento do protagonista que encontra na viagem física, mas também espiritual/interior, o ponto de encontro entre aquela parte de si que está perdida e aquela outra que deseja desesperadamente o encontro consigo mesmo e o equilíbrio. Em todos esses produtos de arte, encontramos a viagem sendo lida e interpretada em diferentes chaves: a viagem é, por um lado, aquilo que te põe em movimento e faz com que se desligue de um mundo pré-existente e rume em direção a novos mundos (há tantos mundos quantos são as pessoas que encontramos e situações vivenciadas). Quando viajamos, não mergulhamos apenas em nosso mundo, mas desbravamos o mundo alheio num total desejo de encontrarmos ali um lugar onde possamos ser nós mesmos e nos conhecermos. Ao final de Paisagem na neblina do grego Theo Angelopoulos, reencontramos aquelas crianças amadurecidas e prontas para enfrentar os novos perigos que estão por vir. O que permitiu essa maturação, senão a viagem? É durante uma viagem de volta para casa que o transexual Bree, primorosamente interpretado pela atriz Felicity Huffman, redescobre no filho delinquente e problemático a sua vocação para o cuidado. Desse modo, viajar significa bem mais que o deslocamento físico ou a ação consequente de tirar fotos e conhecer novos lugares. Viajar assume para o viajante uma dimensão muito mais fina e profunda que o coloca diante de inúmeras portas que representam diferentes oportunidades propiciadoras de vivências que nos enriquecem sob diversos aspectos. Nisso reside o simbolismo da viagem: fazer vislumbrar portas que se abrem de par em par e nos apresentam possibilidades que nos convidam ao encontro com o diferente, mesmo quando esse diferente é aquela parte de nós que ainda não percorrermos.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Tempo e fotografia

A fotografia de Mateus Sá está exposta no Centro Cultural Correios que fica no Bairro do Recife. A exposição, que traz o nome Antes de ontem, Ontem e Hoje, faz referência à memoria a partir de fotografias do Mateus Sá e do seu pai que também se interessava pelo ofício de fotografar. As fotografias foram distribuídas de acordo com o tempo que representam e podem ser visualizadas em suportes diversos. A partir da sequência de fotos, é possível fazer a experiência do tempo que passa e deixa vestígios pelo caminho e, simultaneamente, projeta-se em direção ao futuro. Vale a pena conferir!

XIV Virtuosi

O XIV Virtuosi, festival de música erudita, começou ontem em Olinda e estender-se-á até o dia 18.12.2011. O evento, que passará por Olinda, Recife e João Pessoa, faz homenagem a Frans Liszt e Gustav Mahler. Na execução de peças desses compositores, nomes como os de Leonardo Altino, Ana Lúcia Altino, Alexander Hrustevich, Benjamin Sung, Anton Martynov, entre outros. Ontem estive na apresentação de abertura na Igreja da Sé em Olinda e pude apreciar a grandiosidade da obra de Bach nas cordas do Cello de Leonardo Altino. A partir da terça-feira, o festival continuará acontecendo no Teatro Santa Isabel a partir das 18h. Fiquem à vontade!

domingo, 27 de novembro de 2011

Virtuosi 2011 (texto extraído do site oficial do evento: http://www.virtuosi.com.br/2011/11/21/xiv-virtuosi-abre-programacao-em-olinda-prefeitura-da-cidade/)
A Igreja da Sé, em Olinda, recebe, pelo segundo ano consecutivo, o XIV VIRTUOSI – Festival Internacional de Música de Pernambuco. Uma realização do Ministério da Cultura e o BNDES com apoio da Prefeitura de Olinda, o festival acontece entre os dias 06 e 18 de dezembro. O VIRTUOSI acontece também no Teatro de Santa Isabel, no Recife, em João Pessoa e pela primeira vez se estende para Belém do Pará. O festival, que dedica esta edição aos compositores Franz Liszt e Gustav Mahler, mantém a tradição de trazer grandes nomes internacionais. Tendo como foco a “Educação”, o VIRTUOSI inicia suas atividades com o VIRTUOSI DIÁLOGOS – A Música Contemporânea no Nordeste – série de “talks” com compositores nordestinos entre eles Antonio Madureira, Eli-Eri Moura, Liduino Pitombeira, Nelson Almeida que se realizará na Livraria Cultura com apresentação de obras dos compositores pelo grupo Sonantis. Igualmente serão realizadas Master Classes com professores convidados de cordas e de trombone.Interessados poderão se inscrever no www.virtuosi.com.br. A programação do XIV VIRTUOSI será totalmente gratuita. A abertura do festival será em Olinda, na Igreja da Sé, às 18h do dia 10 de dezembro. Para abrir a programação artística do evento, a produtora Ana Lúcia Altino e o diretor artístico do evento, o Maestro Rafael Garcia, convidaram o violoncelista Leonardo Altino, que apresenta pela primeira vez no nordeste as Seis Suítes de Johann Sebastian Bach para cello solo. Serão dois concertos seguidos com intervalo entre os dois quando será servido um pequeno coquetel ao público presente, prática comum nas grandes salas de concerto. No dia 11 de dezembro, às 16h, o festival escalou o grupo Cellos da UFRN & Percumpá. Em seguida às 18h o conjunto dinamarquês Arild Kvartetten se apresenta seguido às 20h pelo grupo alemão Trombone Unit Hannover. A partir da terça-feira, 13 de dezembro, às 20h, o XIV VIRTUOSI inicia sua Série Vicente Fittipaldi, que abriga os principais concertos do festival. O concerto de abertura reúne a Orquestra Virtuosi sob a direção do Maestro Rafael Garcia e solistas que juntos oferecem um programa inusitado. Na primeira parte serão apresentados cinco concertos para violino e orquestra do compositor barroco Antonio Vivaldi, tendo como solista o violinista francês de origem russa Anton Martynov. Nesta noite, Martynov apresentará dois concertos do compositor italiano desconhecidos do público e descobertos em Viena recentemente pelo violinista que diz “não ter dúvidas quanto a autenticidade”. Em seguida, o trombonista Christian Lindberg apresenta sua obra Ero Arctic para trombone alto e orquestra de cordas. Na quarta-feira, 14 de dezembro, às 20h, o festival apresenta o grupo alemão Trombone Unit Hannover que, formado por oito trombonistas, recebeu recentemente o primeiro prêmio no Deutschen Musikwettbewerben 2011 e apresentará um programa especialmente elaborado para o festival. O famoso trombonista sueco Christian Lindberg participa também da programação. Na quinta-feira, 15 de dezembro, às 20h, o festival oferece um programa bastante diversificado e criativo. Obras de Christian Lindberg, Friedrich Gulda e Franz Liszt compõem o concerto. De Lindberg será apresentado o concerto para viola e orquestra intitulado Steppenwolf, obra escrita para o violista brasileiro Rafael Altino sob encomenda da Orquestra Sinfônica de Odense, Dinamarca. O concerto foi estreado em outubro e será apresentado em primeira audição nas Américas. Em seguida, o violoncelista Leonardo Altino será solista do concerto para cello e jazz band do compositor austríaco Gulda. A noite segue a programação com o concerto nº 2 de Liszt para piano e orquestra que terá como solista o pianista Peter Laul. Na sexta-feira 16 de dezembro, às 20h, tem inicio o II VIRTUOSI PELA PAZ. A maratona musical inicia com apresentação da Cantata Bruta pela Orquestra de Câmara da Cidade de João Pessoa – OCCJP, Coro Sonantis, solistas, declamadores, sons eletrônicos sob a regência de Eli-Eri Moura, um dos compositores da obra. A Cantata Bruta aborda o tema da violenta vida contemporânea, a partir de uma seleção de histórias integrantes d’A Gigantesca Morgue, série de 126 minicontos que faz parte do livro História Universal da Angústia de W.J.Solha. Ela é o resultado de um trabalho coletivo de seis compositores que atuam em João Pessoa e são dedicados ao desenvolvimento de uma linguagem musical pertencente aos nossos dias – Didier Guigue, Eli-Eri Moura, J. Orlando Alves, Marcílio Onofre, Valério Fiel e Wilson Guerreiro. Escrever a Cantata sobre o texto de Solha foi a forma que encontraram para homenagear o aniversário de 70 anos do autor, e, ao mesmo tempo, transcender o universo da música abstrata, tocando num tema real e perturbador da sociedade atual. A maratona musical segue no sábado dia 17 a partir das 14h da tarde com o recital do violinista Benjamin Sung (EUA) acompanhado pela pianista Jihye Chang, seguido pelo Duo Inviolata (Dinamarca), recital da pianista Jihye Chang (Coréia), do acordeonista Alexander Hrustevich (Rússia) e apresentação dos Quartetos para piano e cordas de Gustav Mahler e Johannes Brahms com Victor Asuncion, piano; Anton Martynov, violino; Rafael Altino, viola e Leonardo Altino, cello. A partir das 20h do sábado 17 de dezembro, o XIV VIRTUOSI presta homenagem ao compositor Gustav Mahler apresentando entre outras a obra “Das Lied Von der Erde” (A Canção da Terra), sinfonia para tenor, alto e orquestra com arranjo de Schoenberg para conjunto de câmara. É a primeira vez que a obra será apresentada no nordeste e conta com a participação dos cantores russos Alexander Timchenko (tenor) e Regina Rustamova (mezzo), ambos do Teatro Mariinsky de São Petersburgo. O festival se despede no domingo, 18 de dezembro a partir das 15h, com o Virtuosinho que conta com a participação da Orquestra Meninos do Coque sob a regência do Maestro Lanfranco Marcelletti, seguido pelo Festival Liszt com os pianistas Victor Asuncion, Jihye Chang e Peter Laul. Para encerrar a programação, o festival escalou o grupo francês Le Quatuor Caliente, especialista na música do compositor argentino Astor Piazzolla.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

VII Fliporto: literatura em pauta

A Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto) foi um sucesso de público. Muita gente circulou pela Praça do Carmo (Olinda)durante os dias 11 e 15 de novembro. Infelizmente não foi possível participar de todas as mesas mas, das poucas que participei, gostei muito das experiências de leitura e escritura compartilhadas pelo escritor português Gonçalo Tavares e o venezuelano Fernando Baéz. Ainda lembro as palavras do Gonçalo quando disse que a literatura não é uma máquina de reproduzir, mas uma máquina de fazer pensar. A conceituação não poderia ser melhor. O que me chamou atenção na história de relação de Fernando Baéz com a leitura foi que seu amor pelos livros teve início quando perdeu, num acidente, os livros da família. Outra mesa que se destacou foi aquela composta por Raimundo Carrero e Nelson Mota. Embora bastante
debilitado, Carrero deixou grandes lições sobre a criação literária. Nelson Mota falou, numa maneira descontraída e divertida, da relação com a língua portuguesa, a escritura, as editoras e os projetos futuros. O lado B da feira foi feito de problemas com o áudio, tradução simultânea, microfones e a ausência da literatura japonesa e chinesa na 2ª Feira do Livro. Esperamos que isso não volte a acontecer no próximo ano. A VII Fliporto teve como homenageado o escritor pernambucano Gilberto Freyre e voltou-se para a literatura oriental.

domingo, 9 de outubro de 2011

Mimo 2011

A Mimo 2011 - Mostra Internacional de Música de Olinda - que aconteceu no centro histórico de Olinda abrigou uma programação diversificada. O festival contou com grandes nomes da música nacional e internacional como Delia Fischer, Parahyba Art Ensemble, Trio 3-63, Ballaké Sissoko e Vincent Segal, Arrigo Barnabé, Azymuth, Arthur Verocai, Gotan Project e Philip Glass. Isso só para citar alguns nomes. No primeiro dia do festival, estive presente no Seminário de Olinda para ouvir a delicadeza da flauta de Andrea Ernest Dias, a suavidade do piano tocado por Paulo Braga e a alegria do pandeiro de Marcos Suzano. Em seguida, fui às pressas à Igreja da Sé para ver o concerto da dupla Ballaké Sissoko e Vicent Segal. O africano Ballaké Sissoko encantou a plateia que, ao som da kora, pode fazer a experiência da transcendência. É um instrumento diferente que lembra um berimbau de dimensões expressivas. Vicent Segal acompanhou magistralmente o africano e manteve um diálogo terno com o público. Juntos, produziram uma espécie de som etéreo e inconfundivelmente africano. O dia seguinte contou com a apresentação do Azymuth e Arthur Verocai. Dono de uma longa trajetória, o Azymuth apresentou sucessos que deram uma panorâmica do percurso que conta com quase 40 anos de produção musical. A banda já trabalhou com Sarah Vaughan, Stevie Wonder, Chick Corea, entre outros. Na Igreja da Sé, a partir das 20h30, Arthur Verocai esbanjou simpatia e competência ao reger a Orquestra Sinfônica Jovem do Recife e o Projeto Coisa Fina (SP). A apresentação ainda teve participação especial de Clarisse Grova e Carlos Dafé. O sábado foi o dia mais movimentado, e a disputa para pegar ingresso para a apresentação do Philip Glass foi intensa. Todos queriam ver o músico que traz em seu currículo a criação de óperas, sinfonias, concertos para diversos instrumentos, temas para o teatro, a dança e consagradas trilhas sonoras para o cinema. Philip Glass foi acompanhado pelo violino do californiano Tin Fain. A trilha sonora do filme As Horas é da autoria de Glass. A Mimo 2011 despediu-se do público recifense deixando as marcas indeléveis de uma saudade que tem a música como começo, meio e fim. Desde já, aguardando a programação do próximo ano.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Túnel do tempo: Kid Abelha e Biquini Cavadão


Escrever sobre Kid Abelha e Biquini Cavadão é fazer um caminho de volta ao passado. E volto precisamente a um momento da minha vida em que fui especialmente feliz. Justamente àquele momento em que tudo é mais intenso. Esse momento tem nome e chama-se adolescência. Foi precisamente desse ponto na linha do tempo que fiz contato com um som que me punha a pensar e vivenciar emoções: o pop rock brasileiro. Na segunda semana de setembro (06), pude abrir um espaço na linha do tempo para reviver momentos nunca esquecidos. Estive no show de Kid Abelha e Biquini Cavadão no Chevrollet Hall em Recife e experimentei as mesmas sensações da época em que os ouvi pela primeira vez. Parecia uma espécie de retorno via hipnose à vida inconsciente.
Kid Abelha começa a escrever sua trajetória em 1982 com o disco Distração e em 1985 apresentou-se no primeiro Rock in Rio. Eu diria que já começou decolando e assumindo topos. Mais tarde, consolidou-se no cenário do pop rock nacional com sucessos como Alice, Grand´Hotel e Eu Tive um Sonho. Muitas dessas canções serviram de trilha sonora para histórias de amor vividas por um adolescente que mal sabia amar, apenas sentir.
Minha experiência com a banda que apareceu no cenário musical dos anos 80, Biquini Cavadão, foi menos intensa que aquela que tive com Kid Abelha. Mesmo assim, recordei sucessos que arrancaram faíscas das guitarras mal comportadas e letras subversivas que punham em evidência o descontentamento e conflitos de uma geração. Só para relembrar, cito alguns desses hits que verteram alegrias, lágrimas e protestos: Zé Ninguém, Chove Chuva e Carta aos Missionários. Sem dúvida, um grande show que funcionou como uma máquina do tempo e me fez reviver momentos quase sagrados porque vividos com paixão. Força sempre.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Crime e Castigo


Crime e Castigo é a obra célebre do escrito russo Fiódor Dostoiévski. Escrito em 1866, Crime e Castigo consiste num livro dos dias do jovem Raskólnikov. Após um assassinato, o protagonista ver-se-á perseguido pela lembrança e sentimento de culpa que emoldura suas escolhas, ações e reflexões ao longo da narrativa.
A abordagem psicológica das personagens pontilha a narrativa e nos coloca em estado de auto-reflexão e análise. De repente, vemo-nos vasculhando nossas próprias seguranças, certezas e princípios numa tentativa de consolidá-los ou reorientá-los sob nova perspectiva: aquela construída por Dostoiévski e realizada por Raskólnikov.
Durante a leitura, travamos contato não com personagens, mas arquétipos que atualizam crenças, ideologias, códigos morais, de maneira que não ficamos impassivos, mas somos tragados pelo fluxo desencadeado por essas forças/energias humanas.
A concepção de Deus que sustenta a narrativa e impõe parâmetros ao seu desenvolvimento determina o curso das ações. Penso que essa concepção coincide com aquela cunhada em Irmãos Karamazov: "Como Deus e a imortalidade não existem, é permitido ao homem novo tornar-se um homem-deus, seja ele o único no mundo a viver assim." - F. Dostoiévski - O diálogo com o demônio (in Irmãos Karamazov, 1879).
Sem dúvida, obra-prima!

domingo, 28 de agosto de 2011

VII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco



A VII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco possibilita o acesso à leitura e aos autores durante uma semana de festa. Veja abaixo texto extraído do site oficial da Bienal:

Entre os dias 23 de setembro e 02 de outubro de 2011, será realizado mais um capítulo da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Com o tema “Literatura e Cidadania”, a Bienal chega a sua 8ª edição e o pavilhão de exposições do Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda (PE), volta a ser palco das discussões e debates que fomentam a feira literária referência de Pernambuco.

Nesta oitava edição do evento, livreiros, editores e distribuidores de todo o Brasil estarão reunidos mais uma vez, consolidando o Estado como um dos mais importantes pólos literários do país. O evento, que já faz parte do calendário cultural pernambucano, contempla leitores de todas as idades e escritores de todos os estilos. Um grande acontecimento que estimula o hábito da leitura em todas as camadas sociais, democratizando a informação inteligente.

O poeta recifense Mauro Mota e o escritor cearense Ronaldo Correia de Brito serão os grandes homenageados desta 8ª edição.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

9º Festival Recifense de Literatura: A Letra e a Voz


¹Em sua nona edição, o evento será realizado no mês em que se comemora o Dia do Poeta Recifense. O festival tem como tema Literatura e Memória e propõe discutir as narrativas e as linguagens que abordam a temática da memória, como biografia, autobiografia, e influências literárias, além de discussões sobre as políticas públicas de leitura, garantindo o espaço para escritores, poetas, pesquisadores, editores e ensaístas. Os poetas Marco Polo Guimarães e Lucila Nogueira são os homenageados desta edição.

¹Texto extraído da Agenda Cultural/Agosto/2011

O festival começou dia 22.08 e segue até 27.08 na Livraria Cultura no Bairro do Recife.

Veja programação completa aqui: http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20110820163245

8ª MIMO - 2011


A 8ª Mimo - Mostra Internacional de Música de Olinda acontecerá nas igrejas históricas de Olinda e abrigará grandes nomes da música nacional e internacional. É um festival belíssimo que verte música pelas ladeiras de Olinda e arranca suspiros de encantamento e emoção. O texto abaixo foi extraído do site do evento. Eu estarei lá. Força sempre!



Um encontro de pessoas e ideias interessantes, um panorama de estilos musicais que tem a cara do mundo, dentro de cenários imponentes, são as marcas da Mostra Internacional de Música em Olinda (MIMO). O festival, que promove concertos gratuitos, exibição de filmes e uma vasta programação de cursos intensivos, chega à oitava edição em 2011, entre os dias 5 e 11 de setembro, nas cidades de Olinda, Recife e João Pessoa.

Com um cardápio de atrações que privilegia a música instrumental, da erudita à eletrônica, a MIMO traz nomes que brilham nas principais salas de concerto e palcos do mundo e também abre espaço para os jovens talentos. No elenco deste ano, estão Gotan Project (França/Argentina), Egberto Gismonti, Philip Glass & Tim Fain (EUA), Arrigo Barnabé, Daniel Gortler (Israel), Guinga & Orquestra Sinfônica do Recife, Ballaké Sissoko & Vincent Segal (Mali/França), Azymuth, Orquestra de Câmara de Toulouse (França), André Mehmari & Hamilton de Holanda, Alex Tassel e Arthur Verocai, entre outros.

Além dos concertos, o público tem a chance de conferir as novidades da produção cinematográfica, em que a música é o fio condutor, através do Festival MIMO de Cinema. Com plateia cativa, exibirá curtas, médias e longa-metragens nos telões montados nos pátios da Igreja da Sé e do Seminário de Olinda.

A Etapa Educativa é outro destaque da MIMO. Oferece aos estudantes e jovens músicos a oportunidade de participar de encontros, máster classes, workshops, oficinas de formação de orquestra e curso de regência, sob a batuta de experientes mestres da música brasileira e internacional.

Os números indicam o êxito do evento, que integra o Calendário Oficial de Pernambuco: com público estimado em 100 mil pessoas para 2011, a MIMO já recebeu, desde 2004, 270 mil espectadores, realizou 131 concertos, exibiu 55 filmes, teve a participação de 1.850 músicos, beneficiou 12 mil alunos na Etapa Educativa, gerando centenas de empregos diretos ou indiretos.

O festival é uma realização da Lume Arte Projetos Culturais, empresa carioca que há mais de 20 anos atua em grandes iniciativas na área cultural.

Pasolini revisitado


Poética de Pasolini é atração desta quinta-feira no CinePasárgada
A exibição gratuita do longa Teorema acontece às 18h, seguida por um
debate com a pesquisadora Mariana Andrade*


Divulgação


Teorema, longa-metragem de Pier Paolo Pasolini, é o filme que será
exibido nesta quinta-feira (25) no CinePasárgada. A sessão que tem
início às 18h ocorrerá no Espaço Pasárgada e após a sua exibição
haverá um debate com a pesquisadora Mariana Andrade, especialista na
obra do diretor italiano.

O filme de 1968 desconstrói a representação de uma família burguesa e
simultaneamente possibilita uma redefinição de identidade para os
personagens envolvidos na narrativa nuclear. Outro aspecto
interessante de Teorema é o fato de Pasolini articular o discurso
fílmico à dimensão alegórica, fato que produz no espectador um
estranhamento e uma aproximação.

De acordo com as curadoras Gabriela Saldanha e Raquel do Monte,
escolher o filme de Pasolini deve-se, sobretudo, a proposta de tentar
pensar o cinema de poesia e o discurso indireto livre. “Na poética
pasoliniana, interessa-nos o devir, a inversão da ordem instituída e o
reencontro”, afirmam. Elas indicam ainda que escolheram o filme para
pensar de que forma o cinema reconfigura o conceito literário do
discurso indireto livre.

Para mediar o debate a pesquisadora Mariana Andrade foi convidada. Ela
é mestranda em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco e
estuda o erótico como instrumento político na obra de Pasolini.

O CinePasárgada iniciou há duas semanas suas atividades do segundo
semestre. Algumas novidades envolvem esta fase do cineclube, como a
proposta de itinerância pelos aparelhos culturais do governo do Estado
e a organização de cursos gratuitos sobre cinema, previstos para os
meses de outubro e novembro. As sessões do CinePasárgada ocorrem
quinzenalmente às 18h.

Serviço

Sessão Cinema de Poesia - “Teorema”
Espaço Pasárgada, Rua da União, 263
Quinta-feira, 25 de agosto, 18h.
Classificação etária: 16 anos.
Entrada livre.

*Texto enviado pelo CinePasárgada para divulgação do evento.

sábado, 13 de agosto de 2011

Festival de Jazz (I love jazz)


Na quarta-feira passada (10.08.2011), três ícones do jazz norte-americano apresentaram-se no teatro Luiz Mendonça no Parque Dona Lindu (Recife). O primeiro dia do festival contou com a apresentação do Howard Alden Trio com Bucky Pizzareli e Jack Wilkins e deu provas da força do jazz em sons vertidos por guitarras que só faltavam falar (ou cantar). A noite ainda pode apreciar o tributo a Roy Eldridge, trompetista norte-americano, na primorosa apresentação do Jon Faddis Quartet. Lembro da frase do slogan: Jazz. Quem gosta de música. Gosta. Sem dúvida, indiscutível.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Rio de Janeiro, estou morrendo de saudade


Voltei do Rio há quase uma semana e tenho rememorado os lugares pelos quais passei, as pessoas que tive a oportunidade de encontrar e reencontrar e as belezas naturais que a Cidade Maravilhosa faz desfilar em cada canto e recanto dos seus espaços. Enquanto escrevo este texto, escuto Ball and Chain na voz de Janis Joplin. Seria mera coincidência? Lembro apenas que Joplin sugou a vida que a cidade pulsa, lateja, transpira. É isso mesmo. O Rio é feito de movimentos humanos que não deixam o sangue parar de correr.
Se você quer sentir o pulso da cidade latejar não pode deixar de conhecer a famosa praia de Copacabana (onde Janis Joplin fez topless durante o verão de 70). Cheguei no domingo pela manhã e fui correndo conhecer a famosa praia que serviu de cenário a inúmeras novelas da Globo. O dia estava nublado e parecia ter chovido pela manhã, mas isso não afastou milhares de pessoas que passavam por ali para fazer caminhada, passear com o cachorro, vender bugigangas ou simplesmente ficar fascinado com a beleza de um trecho de orla marítima que inspirou grandes compositores brasileiros. Cheio de empolgação e de câmera à mão, percorri Copacabana, visitei o Forte de Copacabana, o Arpoador e um pequeno trecho da praia de Ipanema. Outro lugar onde o pulso ainda pulsa é a Lapa (bairro boêmio da cidade). Ali pude encontrar multidões que circulavam pelas ruas que abrigam bares, hoteis e boates. Sob o tom dado pelos arcos, as tribos encontram-se e a festa acontece: artistas de rua, grupos de samba, efervescência cultural.
Nas horas de folga do Congresso Brasileiro de Linguística Aplicada na UFRJ, aproveitei para conhecer o centro da cidade que reúne o que há de melhor em igrejas históricas, museus, bibliotecas e centros culturais. Ainda lembro da visita à Biblioteca Nacional e de como fiquei deslumbrado diante de mais de três milhões de livros. Saindo da Biblioteca, conheci poetas e contistas independentes que vendiam seus folhetos e lembrei da condição do artista no Brasil.
Em visita ao Pão de Açucar e Corcovado, quase esquecia das contradições que a cidade abriga, dos poetas famintos, das loucuras da Janis Joplin no verão de 70; de lá de cima, sob os braços abertos do Cristo Redentor ou do alto dos bondinhos do Pão de Açucar, tudo parece harmônico na igual medida da beleza que salta aos olhos.
Então chega o domingo, e às
(...)sete horas da manhã
Vejo o Cristo da janela
O sol já apagou a luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas de pontos de ônibus
Procurando aonde ir.*

É hora de voltar, embora morrendo de saudade.



*Trecho extraído da música Um trem para as estrelas de Cazuza e Gilberto Gil.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Seria uma sombria noite secreta



O recente livro de Raimundo Carrero, Seria uma sombria noite secreta, foi autografado ontem pelo autor na noite de lançamento do romance na Livraria Jaqueira. Mais conhecido pelo romance Sombra Severa, Raimundo Carrero foi premiado em 2000 com o Prêmio Jabuti e em 1995 com o de Melhor Romancista do Ano, entre outros. Schneider Carpeggianii refere-se à obra do escritor pernambucano nos seguintes termos:

Apesar de suas tramas serem pródigas em tragédias, o escritor parece olhar para suas crias com um olhar tão caridoso, tão afetuoso, que elas só poderiam acabar subindo aos céus. É o caso do protagonista de Seria uma sombria noite secreta: um camelô que usa smoking, vende sorvete, toca corneta e vive dos restos de comida encontrados no lixo.
Esse homem- largado nos limites das marginalidades social e afetiva - é marionete para Carrero exercitar sua obsessão com as estruturas do romance.


quinta-feira, 21 de julho de 2011

Festival Mendelssohn/Liszt


A partir de hoje, os recifenses poderão apreciar música erudita no festival que homenageia dois grandes nomes da música clássica: o alemão Mendelssohn e o húngaro Franz Liszt. A escolha pelos compositores, deve-se ao fato de que ambos comemoram o seu bicentenário. Tomando como modelo e móbil o sucesso do Festival Schumann/Chopin, os idealizadores do evento organizaram uma programação que traz musicistas pernambucanos e de outros lugares do país.
Essa reincidência de festivais de música erudita no Brasil (vale lembrar o Festival Virtuosi que aconteceu recentemente em Gravatá e encontra-se em curso na cidade de Garanhuns durante a 21ª edição do festival de inverno) aponta para a preocupação do poder público e dos grupos de incentivo à cultura em tornarem acessível uma modalidade musical que, até pouco tempo, era entendida como produto restrito a uma elite e de difícil compreensão. O público que tem comparecido aos teatros, a fim de fazer a experiência estética dessa modalidade sonora, mostra que a música clássica é acessível a todos os grupos sociais, faixa etária e pessoas detentoras de diferentes níveis de escolaridade. Em Pernambuco, tem sido comum a realização de festivais, apresentações, projetos, que objetivam tornar a música erudita mais próxima das pessoas. A acessibilidade a esse tipo de música é garantida pela entrada franca aos eventos. Em todos os eventos, as casas que abrigam os grupos musicais têm ficado lotadas.
O Festival Mendelssohn/Liszt começou hoje (21.07) e segue até o dia 31.08. O evento acontecerá em vários locais da cidade: Teatro da UFPE, Teatro Santa Isabel, Parque Dona Lindu e Igreja da Capunga. O festival é organizado pela Revista Continente e a entrada é gratuita. Vale a pena conferir!

A programação pode ser acessada no endereço: http://www.revistacontinente.com.br/programas_festival_liszt.pdf

terça-feira, 19 de julho de 2011

Vale a pena mesmo ver. Ou ver de novo! (2)


Hoje indico a vocês s segunda leva de filmes para se ver ou rever. Todos foram garimpados em liquidações e passeios por alguns sebos. E a preços mais que módicos!E para mim são mesmo imperdíveis!

Seguem abaixo os trailers dos indicados para você entrar no clima.

Caso alguns de vocês se inspiraram ou embarcaram na aventurazinha, proposta por aqui, ainda há tempo para enviar as suas descobertas, indicações ou mesmo comentários sobre os filmes que curtiu nessas férias.

Bons filmes!

Antonio Gil Neto


Vale a pena mesmo ver. Ou ver de novo! (2)

Arte, cultura, música: Festival de Inverno de Garanhuns


O Festival de Inverno de Garanhuns contou com uma excelente programação no primeiro fim-de-semana. Dedicado a Lula Côrtes, a abertura do FIG fez o público reviver antigos sucessos do homenageado e recordar um show com músicas produzidas na década de 70: Vivo de Alceu Valença. A abertura cheia de fôlego adentrou a madrugada e deixou para trás as aberturas de anos anteriores que se estendiam apenas até a meia-noite. Leia comentário sobre o disco Vivo de Alceu no blog: http://vitrolagozada.blogspot.com/2007/10/alceu-valena-vivo-1976.html
A segunda noite do FIG chegou recheada de pop rock e colocou no palco bandas como Pato Fu, Nando Reis e Os Infernais e Frejat. Desconheço o repertório do Pato Fu, mas aprecio a voz de Fernanda Takai. Durante a apresentação, a banda arrancou gritos e mãos que não paravam de acenar; além disso, a vocalista deu um show a parte de delicadeza e simpatia. Em seguida, Nando Reis e Os Infernais levaram a praça ao delírio cantando sucessos que eram acompanhados com euforia. Quando o show terminou, cheguei imediatamente a conclusão de que foi um show ímpar, sem precedentes e insuperável pelos que vieram depois dele. Frejat optou por um estilo mais formal e grativou por sucessos que passaram por Barão Vermelho, Cazuza e Frejat (solo).
Na terceira noite, tivemos Gal Costa e Bebel Gilberto. Enquanto Gal Costa optou por músicas mais conhecidas da sua carreira, Bebel Gilberto (talvez por não ser tão popular quanto Gal) quase não foi acompanhada pelo público que insistiu em permanecer na praça apesar da chuva constante.
Na volta para casa, reencontro um amigo que não via há anos (nem lembro quanto tempo faz)e que hoje está morando em Paris. Andamos pelas ruas molhadas da cidade, entre neblina espessa e frio de 10º e conversamos sobre nossas vidas, cinema e a Cidade Luz. É isso.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A modernidade por Arnaldo Jabor


Achei fantástico este texto do Arnaldo Jabor publicado no Jornal do Comércio no dia 12 de julho. No texto, Jabor critica a produção cultural recente que circula no ciberespaço e a compara com a produção de décadas atrás. O texto verte nostalgia, mas sacoleja os cérebros e cutuca os produtores de cultura deste país.

Ando com fome de "universais". A frase é ridícula, mas ando mesmo. Não estou aguentando mais a celebração dos fragmentos, das irrelevâncias como portas da percepção para novas visões de mundo. Quero "sínteses", sim, caminhos mais claros a seguir sobre o Brasil como nos bons e velhos tempos. Ouço neste momento jovens filhos da web, os hackers da arte rindo de mim. Danem-se, tuiteiros... Por isso, lembro a frase de Drummond: "Cansei de ser moderno, quero ser eterno...". ("frase manjada", dirão meus inimigos...); tudo bem, mas eu quero o manjado, o óbvio, eu quero a volta do tempo em que alguma "síntese", mesmo ilusória, nos era oferecida. No cinema então, não aguento mais ver a gostosa adesão de tantos filmes brasileiros a fórmulas cada vez mais escrotas do cinema americano atual, feito de 3D, porrada, vampiros, comediazinhas românticas de bosta, tudo sempre com orquestras tocando plágios de Stravinski e outros (quem diria, hein? Beethoven só serve hoje para musicar os Transformers).

Falo isso porque, ontem, eu revi uma obra-prima: Written in the Wind (Palavras ao Vento) do Douglas Sirk, um filme de 1955 com Rock Hudson, Lauren Bacall e Dorothy Malone. Genial. E aí, dá para ver como os filmes "comerciais" antigos eram muito melhores que essas bostas de hoje, pelas quais o público pós-utópico baba... Palavras ao Vento foi feito com o exclusivo desejo de faturar uma grana, como Cantando na Chuva ou Sunset Boulevard e tantas obras geniais.

Hoje é essa merda que está contaminando o cinema brasileiro e dividindo-o em blockbusters filhos da última safra americana e em filmes que jamais serão vistos, com cineastas se enganando em pequenos festivais, na ilusão digital de que serão vistos para sempre na web - a nova forma de viver numa sociedade sem carne nem osso. Na maioria dos filmes americanos de hoje, os produtores nem se preocupam mais com o babaca do diretor e não deixam sobrar nem um leve resquício de arte invadir seus diagramas para faturar. O negócio é que minha geração sonhava com respostas para o mundo e não pode se contentar com mixarias, pequenos tweets, piadinhas inúteis e filminhos sem talento, só porque estão na rede e são os arautos de um novo tempo de irrelevâncias. [...]
Texto completo disponível em: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110712/not_imp743625,0.php

terça-feira, 12 de julho de 2011

Infâmia



Infâmia (1961), de William Wyler, é uma obra ímpar na história do cinema norte-americano. Baseado na peça teatral de Lillian Hellman, Infâmia conta a história de duas professoras (Shirley McLaine e Audrey Hepburn) que mantém uma escola feminina em regime interno. Acusadas por uma das alunas de manterem um relacionamento homossexual, as professoras perderão a paz e a escola que fechará por falta de alunos. O filme ainda conta com excelentes atuações do ator James Garner.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Arte indígena de Victor Brecheret


A arte indígena do escultor modernista Victor Brecheret encontra-se exposta no Centro Cultural Correios no Bairro do Recife. Entre as peças expostas, o visitante encontrará O Índio e a Suaçuapara, A Luta da Onça e Veado Enrolado. Além desses trabalhos, há ferramentas usadas pelo escultor, desenhos (esboços) e fotografias.
Brecheret foi um artista plástico modernista que, fascinado pelas civilizações indígenas que habitaram o Brasil há muitos séculos na Ilha de Marajó(PA), produziu uma arte identificada com as raízes brasileiras, ou seja, uma arte nativista.
Visitar as obras de Brecheret é recordar uma experiência única numa cidade que faz desfilar suas obras em parques, museus e praças: São Paulo. A exposição acontecerá até o dia 30.06.2011. Vale a pena conferir. Força sempre!

Portadora de Perfume
Victor Brecheret
Pinacoteca do Estado de São Paulo

domingo, 26 de junho de 2011

Mochilando pela América do Sul


Viajar é um hábito que adquiri desde que me entendo por gente. Sou fascinado em explorar lugares, conhecer pessoas e compartilhar culturas. Esse é o móbil das minhas viagens. Na semana passada, comprei o Guia Criativo para o Viajante Independente na América do Sul de Zizo Asnis e Os Viajantes, pois estou montando um roteiro de viagem pela América do Sul. Até o momento, tenho dois roteiros interessantes: o primeiro contempla Bolívia-Peru e o segundo Bolívia-Chile-Peru. Disponho apenas de 25 dias do mês de janeiro de 2012 para realizar essa viagem e preciso pesquisar bem os roteiros a fim de escolher o roteiro mais acessível em termos materiais. Além de pesquisar e economizar, aprender a língua é outro empreendimento que tenho pela frente. Não sei nada de espanhol; nem mesmo uma noção razoável que permita uma comunicação satisfatória. Planejar uma viagem arranca-nos da rotina, enriquece nosso conhecimento sobre o mundo e nos lança em direção a um futuro cheio de possibilidades; além de causar aquele frisson. Força sempre!

sábado, 25 de junho de 2011

Fome


Per Oscarsson, autor sueco, fez por merecer o prêmio de melhor ator na edição do Festival de Cannes em 1966. Interpretando o escritor Pontus no filme Fome de Henning Carlsen, Oscarsson dá um show de atuação nas cenas que o mostram em estado de delírio e alucinação devido a fome que assola a pequena e gélida cidade de Christiânia. Essa co-produção (Dinamarca-Noruega-Suécia)que conta com a direção fotográfica de Henning Kristiansen e roteiro adaptado de uma das obras-primas da literatura mundial do século XIX - o romance Fome de Knut Hamsun - coloca em cena uma das consequências do pós-guerra: o desemprego. Pontus é afetado por essa realidade que o faz perambular pelas ruas da pequena cidade, comer papel, roer osso, criar situações imaginárias, penhorar bens. Vale destacar o papel do tempo e da literatura que funcionam a um tempo como fator de desagregação e unificação da personagem. Força sempre!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Pecado da carne: um filme de Haim Tabakman




Pecado da carne é o filme de maior alcance internacional do diretor israelense Haim Tabakman. O filme conta a história da relação homoafetiva entre Aarão (Zohar Strauss) e Ezri (Ran Danker)na Jerusalém ultra-ortodoxa. Ezri é um forasteiro que chega no bairro judeu da cidade de Jerusalém à procura de um jovem por quem nutre um amor não correspondido. Durante sua passagem pela cidade, entra no açougue de Aarão (herança deixada pelo pai) e se apresenta como candidato à vaga de ajudante. Aarão o admite e permite que durma no açougue enquanto encontra um lugar para ficar. A cumplicidade e a convivência diária aproxima Ezri e Aarão que, de repente, se veem envolvidos e tomados por um sentimento feito de cuidado, proteção, compaixão e desejo. À medida que o amor entre os dois torna-se mais intenso e sincero, Aarão começa a entrever as dificuldades que fazem dessa relação uma relação impossível. Homem religioso e frequentador assíduo da sinagoga, estudante da torá, pai de família, dono do açougue que alimenta o bairro, Aarão sente pesar sobre si a culpa por trair a tradição familiar e religiosa. Por outro lado, sente-se vivificado por esse amor que torna seus dias mais plenos. Sob a pressão da comunidade judia que insiste em expulsar Ezri do bairro, Aarão terá que escolher entre os princípios religiosos ortodoxos que o guiaram até então e o amor de Ezri. O filme foi premiado em vários festivais como o de Palm Springs Intl Film Festival (Melhor Filme de Estreia; Seleção oficial Cannes Film Festival Un Certain Regard; Jerusalém Intl Film Festival (Melhor Ator); Seleção Oficial Mix Brasil - Festival of Sexual Diversity e Seleção Oficial Toronto Intl Film Festival. Destaco também a fotografia de Axel Schneppat e a trilha sonora que conta com a música de Nathaniel Mechaly.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Luiz Gonzaga Canta o Sertão Nordestino



A emoção correu solta pelo auditório da Escola Técnica Estadual Agamemnon Magalhães na tarde de ontem. A razão foi a apresentação do musical Luiz Gonzaga Canta o Sertão Nordestino organizado pelos alunos do primeiro ano dos cursos de Design e Manutenção e Suporte em Informática. Através de texto e performances emocionadas, o grupo falou da esperança nunca ausente do coração do sertanejo e das dores e desilusões que enfrenta quando encara o chão rachado, a seca que se prolonga, as necessidades não saciadas e as promessas não cumpridas de políticos descomprometidos. A peça viajou por esses caminhos feitos de olhos que se voltam para o céu em busca de ajuda e proteção divina e pés que pisam o chão da mais dura realidade. Diante disso, só resta um desejo: deixar o sertão e buscar em terras estranhas a dignidade que não sobrevive em meio a tanta solidão e penúria. Embora tenha os pés fincados nessa terra que já não dá frutos nem flores, o sertanejo quer salvar ao menos a alma se já não pode salvar o corpo minguado que definha entre os gravetos ressequidos da caatinga.
Acredito que essa foi a melhor aula de português, pois possibilitou a reflexão séria e emocionada acerca de problemas sociais que se estendem ano após ano e não encontram solução porque ainda não foram encarados por um espírito decidido a resolvê-los. Os alunos encarnaram essa figura forte e arquetípica que é o sertanejo e deixaram uma mensagem importantíssima e atual: a esperança não fenece, mesmo quando mente e corpo desconhecem sua presença que parece mais uma ausência que não se desfaz.
A peça foi acompanhada pela música do coral da escola que recebeu do aluno Thiago Pedrosa uma regência magistral. Além disso, tivemos a participação do grupo de dança dirigido por Maria Lara, Maria Alice e Núbia Rafaela. Alinhados e conservando um sincronismo que os colocou numa sintonia que beirava a perfeição, os alunos da ETEPAM mostraram que o teatro, a música e a dança são instrumentos indispensáveis de reflexão, encantamento e representação emocionada da realidade. Ao fim do espetáculo, só nos restaram as lágrimas. Força sempre!

domingo, 19 de junho de 2011

Paris em fotos: Brassaï



A Aliança Francesa trouxe ao Recife (Torre Malakoff no Recife Antigo) a exposição fotográfica que melhor retratou a noite parisiense em todos os tempos. As fotos são do fotógrafo húngaro Brassaï que joga com a luz e a sombra para criar uma atmosfera bastante intimista da noite parisiense. Brassaï foi amigo de Sartre, Camus, Picasso, Cocteau, entre outros. Apaixonado por Paris, o fotógrafo tinha particular interesse pela noite e recortou em suas fotografias esse aspecto peculiar da realidade parisiense. A exposição termina amanhã. Força sempre!

“A noite sugere, não ensina. A noite nos encontra e nos surpreende por sua estranheza; ela libera em nós as forças que, durante o dia, são dominadas pela razão"
(Brassaï)

Pernambuco Sinfônico 2011


Hoje à tarde marquei presença na Igreja Madre de Deus no Recife Antigo para ver a apresentação da Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório Pernambucano de Música. O evento faz parte do projeto Pernambuco Sinfônico que percorrerá várias cidades do NE. O homenageado do projeto é o compositor pernambucano Clóvis Pereira. O ineditismo do repertório reside na composição Rapsódia Pernambucana que foi criada especialmente para esse projeto. Além dessa composição, o amante de música erudita terá a oportunidade de apreciar Lamento e dança brasileira (1967), Prinspo Alumioso (1981) e Grande missa nordestina (1978). A Orquestra passará por Campina Grande, Aracaju, Maceió, Caruaru e voltará a se apresentar em Recife onde encerrará suas atividades. Força sempre!

Festival Varilux de Cinema Francês: Uma Doce Mentira


Palma de Ouro para a comédia romântica Uma doce mentira dirigida por Pierre Salvadori. Disponibilizo sinopse publicada no site oficial do festival. Audrey Tautou surpreende. Força sempre!


Numa manhã de primavera, Emilie recebe uma linda carta de amor anônima. Sua primeira reação é jogar a carta no lixo. Mas ela vislumbra uma forma de salvar sua mãe, uma mulher triste e isolada desde a partida de seu marido. Sem pensar muito, ela envia a carta para a mãe, sem saber que o autor é Jean, seu tímido empregado. Emilie não imagina que seu gesto desencadeará uma série de desentendimentos, criando situações fora de controle.

Festival Varilux de Cinema Francês: Potiche: esposa troféu



Catherine Deneuve e Gérard Depardieu brilham nessa comédia com ares kitsch e rosa-shocking dirigida por François Ozon. A história passa-se na França conservadora e patriarcalista dos anos 70. Suzanne Pujol (Catherine Deneuve) é uma mulher que se enquadra bem no padrão social reservado às mulheres da época: submissa, dedicada aos afazeres do lar e censurada em sua tentativa de expressar pontos de vista. Com o afastamento do marido da empresa, Suzanne assume a direção dos negócios e promove mudanças que vão conduzir a um crescimento ainda não conseguido por Robert Pujol (Fabrice Luchini). Isso dará a Suzanne - representante da condição feminina no final do século XX - uma projeção e reconhecimento que repercutirá em toda sociedade francesa. O que isso provocou à época nem preciso dizer. Durante esse percurso, Suzanne é assessorada por Maurice Babin (Gérard Depardieu) numa relação de cooperação que nega uma visão sexista. Carregado de um humor inteligente e perpassado por uma tomada de posição político-social, Potiche se mostra um filme extremamente atual. Força sempre!

sábado, 18 de junho de 2011

Festival Varilux de Cinema Francês: Lobo


O texto abaixo é do crítico de cinema Ernesto Barros. O autor resume e analisa bem aspectos que fizeram de Lobo um dos filmes mais aplaudidos durante o festival de cinema francês. Força sempre!

Para quem gosta da vertente francesa ligada ao cinema naturalista com uma pegada etnográfica (não dada a radicalismos, certo?), o longa-metragem Lobo, de Nicolas Vanier, não vai decepcionar.

Ao contrário de Microcosmos, Migração alada e Oceanos, Lobo não é um filme documentário. “É uma história de ficção, mas absolutamente tudo é extraído da realidade. Nada foi construído, inventado ou modificado para as filmagens. O que está na tela sobre os évènes – as vestimentas deles e o modo como viajam – é cem por cento verdadeiro. Da mesma forma, o relacionamento com os lobos também é natural”, conta o diretor Vanier, que esteve no Rio de Janeiro, no último fim de semana, na comitiva que veio acompanhar o Festival Varilux.

Aventureiro, explorador e documentarista, o cineasta de 49 anos é apaixonado pelo Ártico desde a adolescência. Há 20 anos, conheceu a tribo nômade da Sibéria Oriental. Antes de começar as filmagens de seu primeiro longa de ficção, ele passou um ano vivendo igual a um membro da tribo. A história do filme, baseada num romance que ele mesmo escreveu, mostra a prova de fogo de um adolescente, Serguei, que pela primeira vez será o guardião do rebanho de renas da tribo.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Festival Varilux de Cinema Francês: Copacabana


Desde sexta-feira da semana passada que tenho ocupado as cadeiras do Cinema da Fundação (Recife). A razão é o festival de cinema francês que traz o que há de mais recente na produção francesa. O filme Copacabana foi exibido na primeira noite do festival e conquistou os cinéfilos que se esbarravam no corredor estreito que dá acesso à sala da Fundação Joaquim Nabuco. Dirigido por Marc Fitoussi e trazendo Isabelle Huppert, Lolita Chammat e Aure Atika no elenco, Copacabana conta a história de uma mulher de espírito livre que dribla os enfrentamentos impostos pela vida de maneira inteligente, sagaz, otimista e bem-humorada. O roteiro traduz os desafios e as formas de resistência que mobilizamos todos os dia para nos mantermos íntegros, inteiros e dignos. Embora não se passe no Rio de Janeiro, a referência à cidade maravilhosa pontua todo o filme através de vários elementos que estão presentes na cultura carioca. As situações hilárias arrancaram risadas desmedidas que foram intercaladas por momentos dramáticos, tensos e cheios de encanto.
O festival ainda passará por muitas capitais do Brasil e recomendo que não percam Copacabana.

sábado, 11 de junho de 2011

Trampa Sinfônica no Teatro Santa Isabel


Ontem marquei presença na turnê 2011 da banda brasiliense Trampa. A banda escolheu Recife para iniciar a turnê que se estenderá por outras capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Dando continuidade ao projeto iniciado pelo maestro Silvio Barbato (amigo de Renato Russo e vítima do acidente ocorrido com o avião da Air France que ficou conhecido como Voo - 447), o grupo reúne o som pesado do rock de protesto e a leveza da música erudita executada pela Orquestra Sinfônica do Recife. A princípio, a mistura causa estranheza, pois não estamos acostumados a ver/ouvir essa dobradinha. Isso vai se desfazendo ao longo da apresentação e o que nos pareceu estranho no início torna-se perfeitamente aceitável e harmonioso. Em algumas execuções, achei que as guitarras, baixo e bateria sufocavam a orquestra, de modo que quase não dava para distinguir os instrumentos tão bem conduzidos pelo maestro Joaquim França. No mais, o show entusiasmou amantes do rock e da música erudita com uma apresentação de tirar o fôlego.
Força sempre!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O idiota


O idiota de Akira Kurosawa, baseado em obra homônima de Dostoievski, conta a história de um homem genuinamente bom que entra em decadência ao envolver-se com duas mulheres. Construído com atuações brilhantes, fotografia e trilha sonora primorosas, O idiota prende a atenção do espectador por 166min e o faz refletir acerca de como somos construídos pelas circunstâncias e eventos nos quais nos engajamos diariamente. Força sempre.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Quando voam as cegonhas


Antes de ir pra cama, deixo uma sugestão de filme: Quando voam as cegonhas. A brilhante direção do russo Mikhail Kalatozov e a fotografia de Sergei Urusevsky dão ao filme um ar melancólico, mas repleto de perspectiva. Força sempre.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Paisagem na neblina: um filme de Theo Angelopoulos



O filme do diretor grego Theodoros Angelopoulos é um deleite para os olhos e ouvidos, luz para a mente e um delírio para a alma. Acompanhar a trajetória de Voula e Alexandro na tentativa de encontrar o pai em terras alemãs, é percorrer caminhos feitos de desamparo, desassossego, penúria, violência e esperança. É um filme para a alma. Vale destacar a trilha sonora que acentua o drama vivido pelas personagens. Além disso, o cenário humano é construído a partir de figuras seminais, como o motoqueiro, o violinista e o pipoqueiro. Vale a pena assistir esse road movie muitas vezes. Força sempre.

Bob Dylan: 70 anos


Não faz muito tempo que conheço a música de Bob Dylan. Já tinha ouvido falar do cantor, mas ainda não tinha entrado em contato com suas músicas. Se o fiz, não tinha consciência de quem escutava. Foi com o filme dirigido pelo Martin Scorsese, No direction home, que pude ter uma ideia da dimensão do seu trabalho. Não nego: os trechos de músicas que aparecem durante o filme fizeram com que amasse o projeto musical de Dylan. Adepto do movimento conhecido como contracultura ou beat, que teve em On the road de Jack Kerouac um dos seus pilares de sustentação, Bob Dylan inovou na composição e no conteúdo. Inicialmente, encantou fãs com o melódico folk acústico que mais tarde ganharia uma nova roupagem a partir da substituição do violão pela guitarra. Nessa segunda fase do cantor, temos o folk-rock que aparecerá no disco Bringing it all back home de 1965. A poesia de Dylan influenciou muitos artistas brasileiros. Algumas músicas ganharam uma versão em português do cantor Zé Ramalho. Ele lançou, em 2008, um disco só com músicas de Dylan traduzidas para o português. Longe dos rótulos que mais obscurecem sua obra do que permitem entendê-la naquilo que tem de essencial, Bob Dylan completa 70 anos reconhecido como maior poeta da música pop.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O ícone Ney Matogrosso


Falar de música popular brasileira e não falar em Ney Matogrosso é deixar uma lacuna na esteira da arte produzida neste país. Ney representa as diversas facetas sob as quais a arte se dar a conhecer. Em se tratando de música, o artista é versátil: canta, dança, interpreta. Nesta entrevista (http://www.youtube.com/watch?v=xhcRHzSIAdY&feature=related) concedida à TV Cultura no programa Roda Viva, Ney Matogrosso escancara visões de mundo que nunca foram expostas no palco. Essa é apenas a primeira parte. Força sempre.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Gotas poéticas desnudam Sampa


Trago gotas poéticas enviadas pelo amigo Carlos Tenreiro. Nessas pílulas, o poeta descerra a cortina do cotidiano da cidade de São Paulo. Tenreiro é um poeta que admiro porque representa em versos cenas do cotidiano que trazem para perto de mim uma cidade com tantas facetas e, por isso, apaixonante.

"Rumores do trâfego engolindo a multidão.
Sob a tarde que cai nas tremidas estações, seres aglutinados,
alheios ao outro e em mútua gestação."

"Úmida manhã de outono:
finas partículas de água recortam os caminhos,
carregando em seus ventres aquosos e invisíveis oceanos de sol."

"Aguda manhã em que um feixe de flauta alicia as nuvens graves.
Dueto no além-céu e um tilintar de chuva a clamar pelos humanos."

"No manto das mesas de reunião, os sonhos latem,
a vida grita de outra dimensão."

Força sempre.

Funeral Blues


Conheci o poema Funeral Blues do W. H. Auden através de um CD do Renato Russo chamado Stonewall Celebration Concert. O CD é o primeiro da carreira solo do Renato e traz clássicos da música americana. Feito em homenagem aos 25 anos da rebelião ocorrida em Stonewall, bairro nova iorquino, esse disco apresenta uma frase do W. H. Auden que nunca esqueci: "If equal affection cannot be let the more loving one be me." Sem demora procurei conhecer vida e obra do poeta. Vasculhei sebos, garimpei na internet, e encontrei um dos mais primorosos poemas de Auden: Funeral Blues. Enquanto preparava uma aula sobre leitura, resolvi incluir o poema no último slide. Aproveitei para falar do contexto de produção do poema e, ao lê-lo com meus alunos, fui impactado de maneira diferente pelas palavras de Auden e a experiência que tive do poema não foi a mesma quando encontrei e li pela primeira vez. As palavras atingiram-me de maneira soberba e me deixaram em suspenso por um breve instante. Naquele momento, transcendi. Força sempre.

FUNERAL BLUES
Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Evitem o latido do cachorro com seu osso suculento,
Silenciem os pianos e com tambores lentos
Tragam o caixão, deixem que o luto chore.
Deixem que os aviões voem em círculos altos
Riscando no céu a mensagem Ele Está Morto,
Ponham gravatas beges no pescoço dos pombos brancos do chão,
Deixem que os guardas de trânsito usem luvas pretas de algodão.
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,
Minha semana útil e meu domingo inerte,
Meu meio-dia, minha meia-noite, minha canção, meu papo,
Achei que o amor fosse para sempre: Eu estava errado.
As estrelas não são necessárias: retirem cada uma delas;
Empacotem a lua e façam o sol desmanchar;
Esvaziem o oceano e varram as florestas;
Pois nada no momento pode algum bem causar.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Semana Manuel Bandeira

A Semana Manuel Bandeira promovida pelo Espaço Pasárgada foi vivenciada pelos alunos da Escola Técnica Estadual Professor Agamemnon Magalhães. Durante quinzes dias, entramos em contato com a poesia de Manuel Bandeira através de pesquisas na internet, declamação em sala e produção de cartazes. A culminância do projeto ocorreu no Espaço Pasárgada, onde os alunos apresentaram a poesia sob a forma de música, dança e teatro. Quero registrar meu sincero agradecimento aos alunos que se empenharam na execução do projeto. Espero que tenhamos outras experiências tão positivas quanto essa. Poesia sempre!


P.S.: O vídeo está no formato .flv. Se não conseguirem abrir, segue o endereço no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=7iJ0NQziMrc

Recife Cultural




Valeu a pena ver a apresentação do grupo Anima no VII Virtuosi Brasil. As apresentações aconteceram no Centro Cultural Correios. O grupo Anima trouxe música medieval que foi acompanhada por vários instrumentos que permitiram diferentes sensações. O grupo foi aplaudido demoradamente, mas não podia ter sido diferente. Senti apenas o fato de não poder participar dos demais dias. Estou ocupadíssimo com a produção de um material didático para o curso de Letras a distância da UPE. Isso justifica minha ausência na blogosfera. Mas... Estou voltando...(aos poucos para não causar estardalhaço). rs Força sempre!

terça-feira, 12 de abril de 2011

MANUEL BANDEIRA E A POESIA ERÓTICA


Dando continuidade a publicação de poemas eróticos, publico um de Manuel Bandeira que foi presente dado pelo poeta a Zuenir Ventura. Manuel Bandeira costumava reunir-se com um grupo de alunos em sua casa e, em uma dessas reuniões, entregou o poema abaixo a Zuenir Ventura, então seu aluno. Sexo e linguagem: uma combinação de rara beleza.


A cópula

Manuel Bandeira

Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
culhões e membro, um membro enorme e tungescente.

Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinenti,
Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente

Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!"
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra

E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona a dentro o mangalho até o cabo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

...e o erotismo se fez poesia.



A um estranho

Estranho que vai passando! Você não sabe o quanto tenho te
olhado,

Você deve ser aquele que eu procurava, ou aquele que eu
procurava, (e veio a mim tal um sonho)

Em algum lugar certamente vivi uma vida feliz ao seu lado.

Recordo tudo quando quase nos encostamos, fluídos, afetivos,
castos, maduros,

Você cresceu ao meu lado, e foi um menino ou uma menina,

Comemos e dormimos juntos, seu corpo não era apenas seu
Nem meu corpo apenas meu,

Entrega-me o prazer de seus olhos, face, carne, quando passamos,
você leva minha barba, meu peito,
minhas mãos,

A você nada direi, eu fico a pensar em ti quando estou sentado
sozinho ou acordado noite adentro,

Estou a esperar, não duvido que te encontrarei novamente,

Estarei atento para não te perder
(Walt Whitman)



A CANTORA GRITANTE

Cantava tão bem
Subiam-lhe oitavas
Tantas tão claras
Na garganta alva
Que toda vizinhança
Passou a invejá-la.
(As mulheres, eu digo,
porque os maridos
às pampas excitados
de lhe ouvir os trinados,
a cada noite
em suas gordas consortes
enfiavam os bagos).
Curvadas, claudicantes
De xerecas inchadas
Maldizendo a sorte
Resolveram calar
A cantora gritante.
Certa noite... de muita escuridão
De lua negra e chuvas
Amarraram o jumento Fodão a um toco negro.
E pelos gorgomilos
Arrastaram também
A Garganta Alva
Pros baixios do bicho.
Petrificado
O jumento Fodão
Eternizou o nabo
Na garganta-tesão... aquela
Que cantava tão bem
Oitavas tão claras
Na garganta alva.

Moral da estória:
Se o teu canto é bonito,
Cuida que não seja um grito.
(Hilda Hilst - Bufólicas - 1992)