Total de visualizações de página

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Crônicas de um Mochileiro em Potosí e Uyuni

Em La Paz fiz muitos amigos e me encantou a diversidade cultural e humana da cidade. Os amigos, em sua maioria brasileiros, ainda mantêm contato e, volta e meia, estamos compartilhando as impressões e informações sobre viagens. Além dos brasileiros, ficou a amizade dos estrangeiros, Hans e Yoshi Gato. O primeiro, alemão que vive no interior da Alemanha, fez contato há pouco pelo Facebook. Quer saber como estou e se me encontro envolvido nos protestos que explodiram nos últimos dias. Hans não conhecia o espanhol, mas precisava dele num  país que não tem inglês como segunda língua. Como eu sabia um pouco mais da língua espanhola, procurei manter o diálogo em espanhol para que ele pudesse aprender expressões locais e cotidianas e, assim, interagir melhor com os bolivianos. Quando o espanhol faltava a ambos, tentávamos uma comunicação em inglês de maneira que fomos nos entendendo na língua que permitia o acesso ao outro, seu mundo e história de vida. Já o segundo, Yoshi, é um boliviano cujo pai mora no Brasil (Acre) e, em várias ocasiões, demonstrou vontade em vir ao Brasil para estudar e progredir no conhecimento da língua portuguesa. Apesar dos vínculos, chegou a hora de pôr o mochilão nas costas e seguir viagem. No dia que saí de La Paz veio-me a impressão - que era quase uma certeza - de que os laços com aquela cidade feita de cores, rostos, música, arquitetura e geografia bastante peculiares não desatariam seus nós de maneira que uma ligação espiritual e que tem seus alicerces na memória me mantém afetivamente envolvido com a cidade.
A próxima cidade a me abrir as portas que dão acesso ao acervo cultural que acumulou durante séculos foi Potosí. Segui de ônibus de La Paz a Potosí e passei cerca de 12 horas num ônibus nem um pouco confortável. Além disso, viajei com a inquietante impressão de que minha babagem havia sido despachada no ônibus que saiu 1 hora antes. Em suma, o trajeto não foi agradável, pois além da confusão com a bagagem, tive problemas com a marcação da passagem e quase não viajo neste dia porque meu nome não constava na listagem do ônibus que sairia às 20h30. Após uma pequena "dor de cabeça", colocaram-me na última poltrona próximo ao banheiro. Agitado pela impressão da perda da bagagem e sobressaltos com a passagem, não deu outra: insônia.
O desembarque aconteceu por volta das 6h30 e imediatemente exigi a devolução da minha mochila que se encontra intacta no bagageiro do ônibus. Ufa! Que alívio!
Solicitei um táxi que me custou Bs 5 (uma bagatela!) e pedi que me deixasse num hostal localizado no centro histórico. De saída, afirmo que hostal em Potosí é caro de maneira que vale a pena "bater perna" em busca de uma hospedagem que não custe os "olhos da cara" e ofereça um bom serviço. La Casona, situado no centro histórico e próximo à praça mais badalada da cidade, tem essas características. O hostal funciona numa casa colonial que data do século XVIII e, súbito, entramos na atmosfera da cidade de Potosí, considerada a mais alta do mundo. Isso por que a cidade se encontra 4.090m do nível do mar.

Localizada em terreno acidentado, Potosí nasceu com a descoberta de prata na região. Já foi, outrora, uma das maiores cidades do país e suas ruas, igrejas e casas coloniais presenciaram os anos de domínio espanhol. Em 1987, a cidade foi considerada Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco. Além da tranquilidade de uma cidade provinciana e pacata, Potosí oferece museus, ingrejas coloniais, restaurantes típicos, baixas temperaturas e sobrados antiquíssimos aos visitantes que primam por aliar cultura, história e descanso. A arquitetura da cidade é belíssima e as ruas estreitas que se deitam sobre as montanhas oferecem um rico cenário àqueles que cultivam a arte da fotografia. O dia do meu desenbarque na cidade coincidiu com um feriado e não pude visitar os museus, empreitada que deixei para o dia seguinte no esprimido tempo que dispunha pois deixaria a cidade às 14h com destino ao Salar de Uyuni. Apesar dessas condições, foi possível conhecer o museu mais requisitado da cidade: a Casa da Moeda (Museo Casa de la Moneda). Nesse museu, as visitas são em grupo e acompanhadas por um guia e podem ser feitas em inglês, francês e espanhol.A visita dura 2 horas aproximadamente e custa Bs. 35. Toda a história da extração, tratamento e circulação da prata como meio de compra e venda é contada nesta casa. Além disso, o mochileiro encontrará pinturas e peças de época e produzidas por cidadãos potosinos. Neste site, o leitor poderá fazer uma visita virtual à casa e obter mais informações: http://www.casanacionaldemoneda.org.bo/

À tarde, como planejado, sigo em direção ao Salar de Uyuni onde passei dois dias. Após 5 horas de viagem, chego num povoado que dava a impressão de um lugar perdido no meio do nada, ou melhor, do deserto, um deserto de sal. Devido a forte demanda turística que acorre à Uyuni para conhecer o deserto de sal com seus lagos de cores intensas, a cidade disponibiliza uma rede de hoteis, hostal e pousadas que dão à cidade um movimento que certamente não teria se esses serviços não estivessem ali. Com pouco mais de 1km de raio, Uyuni agrega habitantes locais, áreas de lazer, restaurantes, rede hoteleira, agências de viagem, feira de artesanato, produtos industrializados e muitos, muitos turistas. Uma vez que as agências se aglomeram numa única rua da cidade, fiz uma cotação de preço e optei pelo passeio de um dia, pois o tempo era escasso. Nesse passeio, paguei Bs 120,00 (outra bagatela) e conheci apenas parte do Salar. Embora sem a beleza dos lagos e suas águas, aquilo que vi não me deixou decepcionado. Só não foi melhor porque vinha chovendo muito naquela região e o deserto encontrava-se alagado. Perdida parte da magia, fiquei com a beleza dos produtos, montanhas e hoteis feitos de sal e o tapete de sal que perdemos de vista num deserto cujas "areias" são branquinhas e o cenário lembra as geadas ou o pico de uma montanha após uma nevasca.
De Uyuni, além das paisagens de arrancar o fôlego, trouxe Toda Mafalda do argentino Quino e Pedagogia do Oprimido traduzido para o espanhol do pernambucano Paulo Freire. Os dois livros foram vendidos  por mais uma bagatela: Bs 90. Mas não só isso... Amizades também surgiram nesses trajetos e, tanto em Potosí como em Uyuni conheci pessoas que me encantaram. Eram elas francesas, argentinas, suíças e bolivianas. De volta a Potosí, rumei à Sucre, cidade capital da Bolívia.