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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Os Sapatinhos Holandeses e o Amor de Amizade

Estávamos no verão de 1999. Eu morava em Salvador e, por dois anos, vivenciei a dor e a alegria de viver numa cidade que apresenta desigualdades tão gritantes. No que toca à alegria, isso ficou por conta da minha amizade com Gregório, monge beneditino do Mosteiro de São Bento da Bahia.
Dom Gregório, como era chamado no mosteiro, tinha um sorriso largo, fácil, uma disposição invejável, uma inteligência singular que permitia que transitasse pelas artes plásticas, canto, literatura, instrumentos, administração etc. Acrescento os cursos que ministrava no Brasil e exterior, a Holanda, p.ex.
Quando voltou da Holanda me procurou e trazia algo na mão que era difícil distinguir. Ao se aproximar, vi que era um par de sapatos tipicamente holandês. Recebi o souvenir agradecido e sentamos para conversar sobre a viagem, o curso, a Holanda. Ele me contou histórias hilárias sobre o cotidiano de Amsterdam. Entre uma risada e outra, passava o olhos nos sapatinhos holandeses que pareciam de  porcelana, mas certamente foi trabalhado com outro material. Na frente, um moinho de vento (um símbolo da Holanda) pintado em azul escuro que ganha nuances mais delicadas em alguns pontos. Nos lados, Holland e no restante dos graciosos sapatos, trevo de quatro folhas, pétalas, bolinhas. Uma fita com as cores da bandeira holandesa amarra o par. Consegui na internet uma imagem com um par bastante parecido:
Além dos sapatos, trago as cartas que trocávamos quando se encontrava em férias e os livros que trazem dedicatórias que tinham a mesma medida da delicadeza que deve ter uma amizade.
Fui embora. Voltei a Garanhuns e trouxe comigo os significativos sapatos. Desde então, morei em muitas cidades e sempre levo comigo aquele par de sapatos que são pendurados na parede do meu quarto. Assim, é possível lembrar daquela amizade que pisou o chão da minha existência e deixou sulcos profundos porque sincera.

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