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terça-feira, 18 de maio de 2010

A memória e as coisas


Passei minha infância, adolescência e parte da juventude em Garanhuns, interior de Pernambuco. Hoje moro em Recife e volto a Garanhuns periodicamente para visitar a família que se abriga à sombra das sete colinas que cercam a cidade. Com um clima agradabilíssimo, Garanhuns recebe milhares de turistas durante os meses de junho e julho. A razão é dada pelo clima, férias e o Festival de Inverno que ocorre todos os anos durante o mês de julho. Quem visita a cidade quer voltar e quem nela viveu, não esquece.
Quando volto a Garanhuns bate uma nostalgia dos meus tempos de menino e a impressão que essa saudade deixa é de uma vida vivida. Recordo amigos, lugares, fatos, pessoas... Cada passo dado pela cidade desencadeia uma série de recordações que me fazem acompanhar o desenrolar de uma história que se encontra profundamente enraizada naquelas terras.
Em casa não é diferente. Meus olhos passeiam pela casa dos meus pais e recaem sobre os objetos organizados em meu quarto (minha mãe insiste em conservá-los e mantê-los no mesmo lugar que deixei). Percorro o quarto, abro meu guarda-roupa, mexo em livros, peças de roupa, álbuns, cartas de amigos, abro caixas, vasculho filmes, releio agendas e tudo me lembra um tempo em que fui muito feliz. As coisas têm uma memória; conservam as vivências e dão testemunho da história. Rever minhas coisas, abrir gavetas e desentulhar objetos é reconstruir meu acervo histórico a fim de entender meu presente e projetar o futuro. Em tudo isso, leio o livro da minha história pessoal e compreendo que o sentido das coisas não estão nelas mesmas, mas adquirem seu sentido das relações que estabelecemos com elas a partir do arranjo existencial que cabe a cada um construir.
Ao retornar de Garanhuns, fica aquela certeza de que minha existência não foi vã nem minhas escolhas medíocres. É disso que me convencem os passos dados, as opções feitas e a memória conservada nas coisas. É isso.

2 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Ô sentido das coisas, nosso olhar é quem faz. Belas memórias, deu vontade de conhecer sua cidade.

abraços

Anônimo disse...

Gostei muito do texto. Bem escrito e centrado. Mas para mim, a memória das coisas é a gente quem faz, exatamente como pensa a Tânia, (que comentou antes de mim). E comprovo meu pensar, principalmente nas lembranças felizes que meus filhos (adultos e casados) me contam de suas infâncias. E eu estou sempre fazendo modificações, arejando, revitalizando minha casa. Sempre fui assim. E no entanto eles tem tantas memórias, que confesso, às vezes até me surpreendo. Beijo grande.