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sábado, 30 de novembro de 2013

Rodin e Camille Claudel


Foi no Teatro Santa Isabel que vi a peça Camille e Rodin que, diga-se de passagem, teve os ingressos esgotados no dia anterior. Só consegui porque houve desistência e comprei ingresso de terceiro. A relação - entremeada de dor e alegria - entre os escultores franceses Camille e Rodin não me era estranha uma vez que já havia assistido dois filmes que fazem recortes diferentes dessa relação. No primeiro filme, Camille Claudel, temos o encontro e a aceitação de Camile por Rodin para que trabalhe em seu atelier, seguidos da paixão e das consequências dessa paixão para a vida dos escultores. No segundo, Camille Claudel 1915, tem Juliete Binoche no elenco e foi dirigido por Bruno Dumont. Esse segundo faz outro recorte da vida de Camille, pois agora se encontra num manicômio por vontade e determinação da família. Faltava, então ver Camille e Rodin no palco.
Com Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore no elenco, a peça começa apresentando Camille internada no manicômio e muito angustiada com a ausência da família que a abandona naquele lugar que julga não pertencer. Ansiosamente aguarda uma visita do irmão e escreve reiteradas cartas suplicando que a visite e a leve com ele.
Num cenário construído para cooperar com a carga dramática dos fatos que estão por vir, o segundo ato coloca Camille no atelier de Rodin pedindo para ser uma de suas alunas. No início, a rispidez de uma resposta que desconfia do talento da moça é substituída por uma aceitação que chega seguida de admiração pelo trabalho da jovem. Apaixonam-se.
Essa paixão, em ambos, desagua na arte que produzem e a cooperação de Camille ajuda a projetar ainda mais um Rodin que já goza de um reconhecimento tácito. Com o passar do tempo, Camille passa a exigir momentos cada vez mais extensos ao lado de Rodin que não os pode dar porque é casado e divide sua atenção com  outra mulher. Aos poucos, os encontros entre Camille e Rodin passam a ficar cada vez mais tensos. Ela questiona o papel da arte e seu valor estético num momento de transição artística pela qual a França passa, dispara questões sobre a relação amorosa que entretém com Rodin e critica fortemente o fato de Rodin se apropriar das suas obras e vendê-las como sendo dele. O clima de tensão aumenta à medida que a narrativa se desenvolve e os encontros entre Rodin e Camille parecem um verdadeiro barril de pólvora prestes a explodir. O desenrolar dos fatos são intercalados com a solidão e crises que Camille vivencia no manicômio.
Não há dúvida que ambos se amavam. Mas esse amor não foi suficiente a ponto de Rodin fazer uma escolha por Camille e respeitá-la como escultora de grande talento. Antes de ser enviada ao manicômio pela família, Camille destrói toda sua obra como forma de simbolizar uma ruptura com um passado de tormento e também com o fato de em vida não ter conseguido vender uma única peça.
O texto é extremamente denso e ácido, a iluminação fraca e que deixa o palco na penumbra acentua a tragicidade que marcou essa história de prazer, amor e ódio, o cenário e os figurinos formam com o todo da peça o ambiente ideal para o desenvolvimento de uma narrativa dividida entre os desatinos de uma paixão e a tentativa de construção de uma nova maneira de significar por meio da arte as mudanças desencadeadas entre os séculos XIX e XX.

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