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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Uma viagem, uma porta, inúmeras possibilidades

Viajar é sempre um ato carregado de simbolismos. Há na literatura e no cinema um número amplo de enredos que envolvem ou estão assentados no tema da viagem. Em A volta ao mundo em 80 dias de Júlio Verne, a viagem é a protagonista da narrativa que se desenvolve sob a tônica da partida. Outro exemplo que nos vem da literatura é o livro On the road do americano Jack Kerouac. Esse livro nos põe em contato com a libertação que o protagonista Sal vivencia à medida que avança em sua viagem. Do cinema, temos o filme Chegadas e partidas do Lasse Hallstrom que traz para a tela o processo doloroso de autoconhecimento do protagonista que encontra na viagem física, mas também espiritual/interior, o ponto de encontro entre aquela parte de si que está perdida e aquela outra que deseja desesperadamente o encontro consigo mesmo e o equilíbrio. Em todos esses produtos de arte, encontramos a viagem sendo lida e interpretada em diferentes chaves: a viagem é, por um lado, aquilo que te põe em movimento e faz com que se desligue de um mundo pré-existente e rume em direção a novos mundos (há tantos mundos quantos são as pessoas que encontramos e situações vivenciadas). Quando viajamos, não mergulhamos apenas em nosso mundo, mas desbravamos o mundo alheio num total desejo de encontrarmos ali um lugar onde possamos ser nós mesmos e nos conhecermos. Ao final de Paisagem na neblina do grego Theo Angelopoulos, reencontramos aquelas crianças amadurecidas e prontas para enfrentar os novos perigos que estão por vir. O que permitiu essa maturação, senão a viagem? É durante uma viagem de volta para casa que o transexual Bree, primorosamente interpretado pela atriz Felicity Huffman, redescobre no filho delinquente e problemático a sua vocação para o cuidado. Desse modo, viajar significa bem mais que o deslocamento físico ou a ação consequente de tirar fotos e conhecer novos lugares. Viajar assume para o viajante uma dimensão muito mais fina e profunda que o coloca diante de inúmeras portas que representam diferentes oportunidades propiciadoras de vivências que nos enriquecem sob diversos aspectos. Nisso reside o simbolismo da viagem: fazer vislumbrar portas que se abrem de par em par e nos apresentam possibilidades que nos convidam ao encontro com o diferente, mesmo quando esse diferente é aquela parte de nós que ainda não percorrermos.

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