Total de visualizações de página

domingo, 13 de janeiro de 2013

Crônicas de um mochileiro em Nasca

Descemos em Nasca no dia 08 de janeiro e a impressão que tive foi de  uma Nasca pacata, sem grandes atrativos e cujo desenvovimento havia parado num passado que não conseguiu recuperar, amarrar as pontas e dar continuidade. Hospedado, saí para conhecer melhor aquela pequena cidade do interior do Peru. Caminho a passos lentos, entro e saio de ruas, esbarro em praças e a impressão não muda. Nasca é mesmo uma cidade com pouquíssimos habitantes  que têm numa pequena praça que fica lotada no fim da tarde seu único lazer e ponte para interações que lembram as pequenas cidades do interior de Pernambuco. No chão da praça, figuras de animais remetem às linhas de Nasca e divertem as crianças que não passam despercebidas sobre aqueles desenhos quem povoam seu imaginário. Fotografo e filmo a praça. Busco captar, por meio de fotografias e uma pequena filmagem, as tradições, hábitos, crenças e sonhos de um povo que aprendeu a (sobre)viver à escassez que o deserto impõe.

À noite, fui ao hotel Nasca Lines onde pude ver Júpiter e suas luas. Agora a estada na cidade ganhou um véu de poesia. Até então não havia mirado o céu em um planetário nem recebido aula sobre as diferentes constelações e seus significados profundos. A partir de então, sedimentou-se a certeza de que há uma estreita relação entre o céu e a terra, de tal maneira que nossos desejos mais amplos, sejam bons ou maus, refletem no todo. O contrário também é verdadeiro. Depois dessa aula ao ar livre e rodeada de estrelas, ingressei numa sala onde me foram apresentadas as linhas de Nasca, seguidas de uma explicação ou, melhor seria dizer, das explicações que tentam lançar luz sobre um mistério que grassa o tempo e ainda hoje produz teses as mais diversas sobre o assunto. Essas linhas formam um conjunto de figuras de animais, plantas etc e geométricas que foram feitas pela civilização de Nasca entre os anos 400 e 650 d.C no deserto de Nasca. Foi fundamental conhecer mais sobre as linhas antes de partir em passeio no dia seguinte para ver isso de um mirador. Edgardo, nosso host e guia em Nasca, apresentou um panorama a um tempo, curioso, encantador e científico daquilo que hoje é patrimônio da humanidade e foi objeto de estudos durante 40 anos da arqueóloga alemã Maria Reiche. Impressionou conhecer sua dedicação durante tantos anos de vida a fim de desvendar os mistérios riscados pelas linhas num deserto onde as condições são tão precárias. Após a apresentação, visitamos o quarto onde viveu durante o tempo que passou em Nasca a investigar essas linhas. Hoje li no jornal que um filme sobre sua vida e trabalho investigativo começará a ser rodado este ano.

Cheguei ao deserto de Nasca. É difícil descrever a sensação de estar ali e ver as linhas que podem ter servido a tantos objetivos possíveis, como representar a posição dos astros, marcar a posição dos participantes de rituais religiosos ou, ainda, estabelecer uma relação com o rio, fonte de vida, que garantiria a sobrevivência dos antigos povos do deserto. Meu olhar alcançou apenas duas figuras, porque não fiz o passeio de avião que permite ver todas as linhas e figuras. Não foi necessário ver todas para entender que a humanidade significa sua vida por meio de símbolos que carregam seus sonhos, crenças, desejos e perspectivas. Além disso, chama-me particular atenção que tenha escolhido uma forma de arte para produzir significados e, assim, perpertuar suas tradições e cosmovisão.
As linhas de Nasca abrem o livro da história dos homens em sua tentativa de entender a si mesmos, à sua comunidade e organização social e o mundo no qual se encontram como parte de Algo Maior que os inclui e do qual se sentem pertencentes.
Por fim, quero deixar um agradecimento especial a Edgardo que gentilmente nos cedeu o espaço de uma vida que, como as linhas de Nasca, constitui um mistério a ser desvendado porque capaz de atitudes demasiadamente humanas.

Nenhum comentário: