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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Crônicas de um viajante em Viña del Mar e Isla Negra

Quando estamos viajando, a relaçao com o tempo ganha um novo sentido diferente daquele que damos quando nos encontramos em nossa rotina. Passamos a medir o tempo nao pelo relógio ou calendário, mas pelas experiências vivenciadas e percepçoes que nos chegam a todo instante. Assim, ficamos perdidos no tempo, fora de órbita e corremos o risco da imprecisao no que diz respeito ao tempo seguido por rodoviárias e aeroportos. Isso tudo é para dizer que nao posso esquecer que hoje é segunda-feira (lunes por essas bandas) e amanha volto a Santiago para embarcar na quarta-feira logo cedo, bem cedo. Hoje resolvi ficar "de boa" no Hostel para descansar, organizar a cabeça, cuidar da mente e arrumar a bagagem que está uma bagunça. Antes de falar das minhas andanças em Viña del Mar e Isla Negra, vou discorrer rapidamente sobre um show que fui em Valparaíso no sexta-feira. O nome do grupo é Tapeku´A, oriundo do litoral da Argentina e apresentou-se no Centro Cultural IPA para uma plateia nada mais, nada menos, formada por três pessoas: eu e dois porteños. Isso nao diz nada acerca da qualidade musical do grupo que foi vítima, talvez, de uma divulgaçao insuficiente. No início da apresentaçao, pensei estar ouvindo música sertaneja em outra chave e, nao estava enganado, pois o grupo faz um som muito semelhante ao som sertanejo feito no Brasil, embora nao deem esse nome. A bem da verdade, o resultado do seu trabalho musical é uma mescla dos sons produzidos em território argentino. O produto dessa fusao é um som que extasia, eleva a alma, pacifica. Ao final da apresetaçao, trocamos algumas palavras e comprei o CD que traz uma capa com desenhos que remetem a elementos da natureza colocados nos espaços abertos da letra Y. Dentro da capa, um pequeno texto em castelhano (óbvio!) explica o tema e o conceito do CD. Vou reproduzir trechos do texto original: "Y...es agua, en guaraní. Tanto el elemento como el pueblo originario son parte intríseca de nuestra vida, y nuestra cultura. (...) "Y" es la síntesis del comienzo de Tapeku´a, ese "punto de encuentro", ese "a mitad de camino" donde nos encontramos y contemplamos nuestra realidad, evocando voces de la tradición popular que fusionamos para transformalas en nuestra música contemporánea. " Agora traduzam. Desse lado da América do Sul, a arte mantém um vínculo muito estreito com a natureza, de maneira que seus elementos ocupam temas ou sao usados em instrumentos que reproduzem seus sons originais. Acredito que o duo Tapeku´a persiga essa tradiçao. Em Viña del Mar. Finalmente cheguei aqui, última cidade do meu roteiro de viagem. Viña del Mar é uma cidade provinciana, talvez um pouco mais provinciana que Valparaíso, mas que apresenta um cenário mais moderno com grandes edifícios, largos restaurantes, orla marítima e ruas que deixam para trás o traço secular de Valparaíso. Desci próximo ao Relógio de Flores e disputei um lugar com os turistas que tentavam sua melhor foto. Eu também queria a minha e tive paciência em esperar que grupos enormes de turistas deixassem o local. Em seguida, andei pela orla e entrei em castelos que viraram centros de exposiçoes, passei em restaurantes que assumiram a forma de um navio e, finalmente, resolvi entrar na praia. Ops! Que é isso? Areia de praia? Embora cheio de dúvidas, segui em direçao ao mar e resolvi medir a temperatura da água. Nem de longe tomo banho nessas águas!!! Tá louco!!! A água é geladaaaa!!!! Ainda pensei em sentar numa cadeira e ouvir música ou ler um livro. Após alguns minutos observando o movimento, entendi que aqui os banhistas trazem seu guarda-sol e sua toalha, de maneira que nao existem donos de barraquinhas oferecendo cadeiras. Cada um no seu quadrado e com sua toalha e guarda-sol: essa é a lei!! Após minha tentativa frustrada de "pegar" uma praia no sábado, continuei percorrendo a cidade e fotografando praças, conhecendo museus e igrejas e parando para ouvir artistas de rua que descansam o viajante com seus sons peculiares e místicos, como me explicou um tocador de Didgeridoo, instrumento australiano usado em rituais indígenas. Ontem estive em Isla Negra, uma pequena praia a duas horas daqui que foi escolhida por Pablo Neruda para receber sua terceira casa. Enquanto esperava para conhecer a casa, aproveitei para explorar a praia e recolher as energias vindas daquele lugar privilegiado e rico em recursos naturais. Ali o Oceano Pacífico parece dançar e o sol invade a terra como um presente. Concluí minha visita à casa de Neruda no túmulo onde jaz seu corpo. Ali encerrei minha viagem e entendi todo percurso realizado nas palavras do último livro de Neruda: "Confesso que vivi." É isso.

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